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EvilSpecial – A depressão e os transtornos psicológicos no universo de Resident Evil

O universo de Resident Evil, em toda sua vastidão, já nos presenteou com uma gama interminável de personagens, histórias e subtramas. Há muito o que se ver, há muito o que refletir e há muito o que pensar sobre e aprender; certamente, Resident Evil é uma franquia importantíssima por abordar questões humanitárias, políticas e sociais muito relevantes.

Entre tantos assuntos que a franquia já nos trouxe, hoje é interessante falar sobre a presença dos transtornos psicológicos, um tema mais do que relevante e que com certeza não passa despercebido na franquia.

Muitos personagens em Resident Evil apresentam traumas psicológicos profundos, seja devido à perda, guerras e problemas internos que se tornaram grandes demais. Isso torna os  personagens mais profundos e complexos, ou seja, o jogador tem mais interesse em entender o motivo dele ser daquele jeito e pode-se até mesmo haver uma identificação com os desafios do personagem.

Antes de começar esse artigo, é importante dizer que nós do Evilhazard acreditamos na vida, acreditamos que todo ser humano tem o direito de viver bem e são mentalmente! Queremos nossos leitores aqui conosco, curtindo personagens e histórias incríveis. Se você passa por problemas de quaisquer natureza, busque terapia, busque auxílio psicológico, sua vida é importante!

A vida é difícil, mas nós somos como Chris, Leon, Jill, Claire, Ethan e demais heróis de Resident Evil: nunca desistimos.

Um dos grandes eventos do universo de RE foi o incidente de Raccoon City, a tragédia foi tão complexa e massiva que deixou uma cicatriz na psiquê coletiva das pessoas e um buraco ainda maior nas vidas de quem viveu e  escapou daquele inferno na terra. Isso nos é assegurado por um file encontrado em Resident Evil 7, atestando que os sobreviventes de Raccoon City, até aquela data, encontravam dificuldades para seguir suas vidas; isso sugere tanto as dificuldades financeiras e a perda de patrimônios quanto a situação traumática irrecuperável.

”16 anos desde o pesadelo de Raccoon City, sobreviventes ainda estão sofrendo”

Sabe-se com segurança que, de todos os heróis que conseguiram fugir de Raccoon, Leon Scott Kennedy foi um dos mais marcados pelo evento. Aquela noite trouxe uma transição violenta e abrupta na vida de Leon, e ele acabou submetido a situações além da sua capacidade de escolha. Ele não só esteve no centro de uma luta altamente estressante e cansativa por sobrevivência, como também  foi submetido a imensas dores psicológicas ao ver tantos inocentes perecendo para o vírus, e até mesmo Ada ”morrendo” sem que ele pudesse salvá-la. Para efeito agravante, Leon viu seu futuro inteiro planejado se desfazendo e dando lugar a uma servidão ao governo pelo resto de sua vida.

As subsequentes missões perigosas as quais Leon foi confiado pelo governo trouxeram a ele muitas perdas e um crescente sentimento de cansaço, pois não importava o que ele fizesse para que o bioterrorismo acabasse, sempre recebia um novo chamado e sempre tinha de assistir os mortos vivos se erguendo a partir de sangue inocente.

Em Resident Evil Damnation e Vendetta, vemos momentos de Leon bebendo para aliviar sua dor, o que enfatiza a ideia de que Leon está tão deprimido em decorrência desses acontecimentos, que está entregue a um vício em álcool. Infelizmente, a ficção retrata nesses momentos a realidade de muitas pessoas que se veem cansadas da vida, do trabalho e mesmo da escola ou faculdade, acabam recorrendo às bebidas para se afastarem mesmo que temporariamente dessas situações.

Leon era apenas um jovem promissor com uma carreira que desejava seguir, porém ele teve que ver esse sonho acabar e dar lugar a responsabilidades intermináveis que ele não queria assumir e por coisas que ele certamente não queria ter visto. Com certeza isso fez com que ele se tornasse extremamente amargurado pela vida.

Por outra perspectiva, temos Chris Redfield, o veterano dos S.T.A.R.S, da BSAA e do combate armado ao bioterrorismo no geral. Chris é um dos personagens mais traumatizados entre os heróis de Resident Evil, suas inúmeras lutas e perdas deixaram marcas na mente do soldado. Em Resident Evil 5, encontramos Chris muito resistente e fechado em relação a parcerias; mesmo Sheva tendo se tornado uma grande aliada, o trauma causado pela suposta morte de Jill na vida dele, ao se ver numa situação da perda de um amigo e da incapacidade de salvar uma vida, o colocaram em um estado de negação para proteger a si mesmo.

Durante os eventos de RE6, Chris é submetido a mais uma violenta turbulência em sua vida quando seu esquadrão na Edonia é dizimado por uma emboscada de Carla Radames; o trauma foi tão grande que o soldado sofreu uma espécie de amnésia dissociativa por conta do incidente. A amnésia dissociativa de Chris é dita como um quadro que ocorre entre pessoas que experimentaram grandes traumas, inclusive a guerra, e mesmo com o esquecimento parcial ou completo dos eventos, o incidente continuaria influenciando no comportamento do indivíduo.

Isso é melhor aprofundado nos files de Resident Evil 6, quando Chris tornou-se frequentador assíduo de um bar (o mesmo que aparece na abertura de sua campanha) durante 6 meses, uma funcionária do local relatou que ele tinha um comportamento irritadiço e desnorteado. A situação de Chris foi agravada no final do jogo, quando ele perde aquele que seria seu sucessor, Piers Nivans, que durante o jogo todo conseguiu ancorar Chris ao objetivo e fazendo com que ele tomasse decisões menos influenciadas pelo ódio por Carla Radames. Piers parecia ser o soldado perfeito e certamente Chris viu muito de si no rapaz, eles desenvolveram uma forte amizade que infelizmente foi interrompida pela guerra contra o terror biológico.

Após a morte de Piers, vemos Chris mais cansado e cumprindo seus objetivos por simplesmente não poder parar nunca com essa guerra. Mais recentemente, em Resident Evil Village principalmente, vemos Chris sofrer mais uma perda, com a morte de Ethan Winters ao final do jogo. Ethan pediu que Chris cuidasse de sua filha Rose, enquanto o herói era forçado a mais uma vez ver um amigo morrer sem poder ajudar.

As perdas em uma guerra são inevitáveis, porém nossos heróis, salvo os momentos absurdos e exagerados, são humanos e na maior parte das vezes, acabam envolvidos demais com as pessoas que precisam salvar e seus companheiros de batalha e sobrevivência.

Saindo um pouco do Eixo dos ‘mocinhos’, em Village também somos introduzidos a uma personagem interessantíssima e infelizmente pouco explorada: trata-se da marionetista Donna Beneviento!

Desde que o jogador chega nos domínios de Donna, é possível ver diversas bonecas penduradas pelo pescoço em árvores, uma atmosfera extremamente macabra e densa permeia os arredores do casarão dos Beneviento. O cenário nos apresenta diversas lápides dos familiares há muito tempo mortos de Donna, inclusive uma suposta filha ou irmã.

Não por acaso, o método de Donna de afligir suas vítimas é causando alucinações e as envolvendo em uma teia de confusões, sensações e tormentas, como uma tecelã das trevas; todo o cenário da Casa Beneviento  é focado em mexer com os mais profundos medos e inseguranças de Ethan, distorcendo tudo o que ele ama. Só uma pessoa que viveu muito tempo em amargura e dor pode entender tão bem como destruir a alma de alguém.

Donna sofre de uma obsessão patológica pelo luto; após a morte dos pais, ela entrou em depressão e se fechou no seu próprio mundo de fazer bonecas, fazendo delas suas amigas e companheiras, inclusive dividindo seu Cadou com as mesmas. Além das perdas familiares, Beneviento sofria com Bullying e discriminação por possuir uma cicatriz no olho.

Infelizmente, muitos dos processos depressivos estão ligados a discriminações, é algo que afeta o indivíduo pela vida toda; algumas pessoas simplesmente não conseguem lidar ou não recebem ajuda para isso, e como Donna, acabam se fechando em seu mundo, incapazes de criar conexões com outros.

Em suma, foi possível entender alguns casos de depressão em Resident Evil; a franquia realmente é muito relevante para entender diversas questões humanas, e sem dúvida a depressão, como a doença do século, é uma questão humana que precisa ser exposta a todos os públicos e camadas da população. Com certeza esse trabalho é facilitado quando a mensagem chega por um jogo, um livro, série ou filme, ainda mais uma grande e relevante saga como Resident Evil.

Nós do Evilhazard acreditamos na vida, acreditamos que todo ser humano tem o direito de viver bem e são mentalmente! Queremos nossos leitores aqui conosco, curtindo personagens e histórias incríveis. Se você passa por problemas de quaisquer natureza, busque terapia, busque auxílio psicológico, sua vida é importante!

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