Certamente, o título deste artigo deve causar um pouco de dúvidas ao caro(a) leitor(a) do EvilHazard, afinal, quem nos lê sempre aguarda textos e notícias sobre Resident Evil, Silent Hill, The Callisto Protocol e demais obras do survival horror. Desta vez, porém, viemos com a popular saga da Ubisoft, Assassin’s Creed! O que está relacionando à conhecida franquia de Stealth, RPG e Parkour com o universo do terror é o que buscaremos entender neste artigo, após o anúncio recente por parte da Ubisoft de diversos novos títulos da franquia, dentre eles, um com um tom muito misterioso, com o codinome de Hexe, que, traduzido do alemão, significa algo como ”bruxa”.
O pouco que foi revelado sobre este game indica que terá um tom mais sombrio; a Ubisoft além de publicar este pequeno teaser acima, colocou em seu Instagram a legenda: ”We work in the dark” ou ‘Nós trabalhamos nas trevas’, que é parte de um popular lema da Irmandade dos Assassinos dentro da franquia, porém o fato de ter sido enfatizada esta parte e excluída a parte ”To serve the light” ou ”para servir a luz” junto ao misterioso codinome gera uma aura bem distinta.
O próprio tom sombrio do teaser e o emblema da irmandade como um penduricalho de madeira remete muito ao filme Bruxa de Blair e o amuleto da vilã homônima, o que pode levar a crer que o jogo se passaria nos tribunais das bruxas de Salém, contudo, devido ao codinome estar em alemão, pode fornecer a pista contundente de um contexto histórico mais amplo e condizente com Assassin’s Creed: os tribunais das Bruxas do Sacro-império romano germânico dos séculos XVI e XVII, e este caro(a) leitor(a) é o nosso assunto de hoje!
O artigo a seguir foi baseado no excelente artigo: ‘‘Germanic Witch Trials” de William Shen.
Os séculos XVI e XVII representaram muito alvoroço e problemas estruturais na Europa, especialmente no tocante à influência do Sacro Império Romano dentro das terras germânicas que decaía por conta de territórios alemães se tornando autônomos por meio da guerra entre os mesmos e a ascensão da reforma protestante e o conflito com a contrarreforma católica. Essas questões laceravam profundamente a capacidade de controle de crises do império e dos senhores locais, e tudo isso somado a desastres naturais, fez com que os cidadãos fossem até a igreja e os seus senhores procurarem respostas, culpando bruxas e feiticeiras de serem as responsáveis pelas catástrofes.
Aproveitando-se da pouca instrução das pessoas comuns e suas superstições, os senhores desses reinos resolveram utilizar o rebuliço e o medo das bruxas na sociedade para unir as pessoas e diminuir as resistências e desaprovação em relação à transições de poder constantes e o clima geral de insegurança e conflitos.
Assim, a caça às bruxas começavam a tomar forma, à princípio como uma ferramenta de catarse para os cidadãos conseguirem dar vazão às suas angústias e despejar o sentimento de angústias, inseguranças e esperança ao ver uma ‘bruxa’, que seria a causa daquela dor, sendo executada. O fenômeno da caça às bruxas não chegaria ao seu auge até os anos 1570; antes disso, diversos territórios alemães adotaram o código criminal do Império Romano, conhecido como Constitutio Criminalis Carolina, e é importante entender isso, pois foi após o concílio de Trento (1563) que o Constitutio Carolina sofreu uma revisão causada pela contrarreforma dos jesuítas, e aí sim a questão da caça às bruxas foi institucionalizada.
Art 21: “… Por mera acusação, ninguém
daqueles que se atrevem a adivinhar a sorte por feitiçaria ou outras artes mágicas deve ser
preso ou torturado”. 3 No artigo 109: “Se alguém feriu ou
machucou pessoas através de feitiçaria, ela deve ser condenada a
morte na fogueira.”
Tanto os protestantes quanto os católicos em dado momento passaram a se beneficiar mutuamente da histeria das bruxas e enriquecer com isso, muitas pessoas eram consideradas ”culpadas até que se prove o contrário” e acabavam morrendo antes de conseguir qualquer defesa; o clero católico tinha poder suficiente para evitar as execuções e abusos de poder, porém eles eram geralmente os que abusavam de poder. A princípio, os julgamentos de bruxas estavam sobre a jurisdição dos Tribunais Eclesiásticos, mas logo os Tribunais Seculares da inquisição também passaram a se aproveitar da situação. Brechas na lei permitiam que a inquisição usasse qualquer meio para extrair uma confissão das supostas bruxas, e a lei inclusive tornou-se muito flexível: um governante local poderia fazer éditos e alterações no código penal de bruxaria para moldar a caça às bruxas de acordo com suas crenças e necessidades.
A crueldade chegou ao ponto que o tribunal eclesiástico da abadia de São Máximo ordenou a queima de dois vilarejos e suas populações, deixando pouquíssimos sobreviventes. Bruxas eram um medo constante em toda cidade e ninguém estava a salvo de ser acusado.
Para fins de maior clarificação dessa questão no âmbito político, o fenômeno de caçar, julgar e matar bruxas chegou a um nível tão absurdo que os senhores de certos povoados poderiam promover execuções com o intuito de apaziguar rixas, inimizades e favorecer o surgimento de novas alianças políticas e econômicas. Mesmo pessoas ligadas a igreja e ao clero começaram a ser sentenciadas como praticantes de artes das trevas; padres mais jovens que ambicionavam ascender a posições mais elevadas e usurpar os mais velhos acusavam os padres mais antigos (que já estavam fora do sistema legal) de bruxaria e conseguiam facilmente acusar e causar a morte do padre. Isso ocorreu com Barthol Braun, um padre e membro do conselho de Bamberg.
Eliminação de rivalidades políticas foram muito frequentes com os tribunais das bruxas: o prefeito de Bamberg, Johannes Junius, e até parentes do príncipe bispo de Wuzburg foram executados, supostamente acusados de bruxaria por rivais.
Com o tempo, no final do século XVII, a febre da caça às bruxas já começava a enfraquecer e sumir, as pessoas iam percebendo que mesmo com tantas mortes de supostas bruxas, ainda ocorriam desastres, fome e doenças, de modo que isso diminuiu a crença da população no fenômeno. Além do mais, já começava uma era de mais crença na razão e na ciência nas terras alemãs, efetivamente enfraquecendo as superstições medievais. As pessoas também começaram a perceber a argumentação problemática e pouco convincente por trás dos julgamentos das bruxas.
Caso Assassin’s Creed Hexe de fato siga esse rumo, teremos uma experiência muito interessante de se jogar e certamente pode servir para expor um fenômeno que causou diversas mortes e que é uma das mais vexatórias e tristes manchas na história da humanidade. Este título da franquia promete ser o mais sombrio de toda a saga, explorando bastante uma atmosfera de terror/horror, algo inédito na série até aqui!
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Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil