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EvilTalk – Como seria a história de Silent Hills, sob a ótica da história de P.T.?

No EvilTalk, nossos redatores irão apresentar, em texto, suas opiniões acerca dos mais variados assuntos que envolvem a franquia Resident Evil e demais obras do terror/survival horror, em uma narrativa questionadora e que dará preferência à abordagem de temas polêmicos e que geram discussão na base de fãs do jogo em questão.

ATENÇÃO: todo o exposto nos textos do EvilTalk refletirão unicamente as opiniões e convicções do Redator responsável pela publicação.

Neste texto, o tema a ser abordado por nosso Redator Vítor Barros será: Como seria a história de Silent Hills, sob a ótica da história de P.T.?

Hoje contarei a história que passou despercebida (por alguns) durante o teaser jogável P.T., projeto da Konami realizado por Hideo Kojima e Guilermo del Toro, que teria Norman Reedus como protagonista, teaser esse que serviu de divulgação do cancelado e promissor Silent Hills. O texto traz consigo teorias e especulações, para tentar emendar as pontas deixadas pelo cancelamento do jogo, para decifrar como poderia ser uma sinopse de Silent Hills.

P.T. conseguiu ser tão marcante, por resgatar elementos do terror psicológico usados nos clássicos da franquia, principalmente nos dois primeiros jogos, que é notícia até hoje, e ainda arrepia muitos jogadores mundo afora nos dias atuais. Em P.T., o jogador se vê em um corredor estreito, à noite, durante uma chuva com trovões, onde as coisas demoram a acontecer… mas como assim? O jogo se preocupa em usar a claustrofobia (medo mórbido de permanecer em espaços fechados), mantendo o personagem o tempo todo em um corredor estreito e trancado, no qual sempre que consegue sair, retorna ao início do corredor. Sem comentar no design em “L”, do cenário, onde o personagem só vê o final após contornar uma parede, tendo sua visão limitada do local.

O jogo também se preocupa em emitir sons e colocar o jogador em situações, em que é de se esperar que algo ruim (um susto por exemplo) aconteça, seja no piscar de luzes, seja nos passos atrás de você, seja o choro.. sempre algo te remete a um fim que nunca chega, mantendo uma tensão constante, deixando em um estado desconfortável e de insegurança. Esta série de genialidades, que vão destruindo lentamente o psicológico do jogador, se unem perfeitamente com os famosos “Jump Scares”, ou seja, sustos que te fazem pular da cadeira (e como fazem hehe!) que acabam sendo mais assustadores que o normal.

Agora para dar inicio a história devo deixar algumas coisas de lembrete:

Primeiro: devido ao cancelamento do jogo oficial, só temos de concreto o que foi utilizado na demo, e que não se sabe se iria ser aproveitado 100% igual no produto final.

Segundo: como todos os Silent Hill lançados pela Konami, com este não seria diferente; a história é muito interpretativa, ou seja, nem tudo é de fato apresentado no decorrer do jogo. Algumas coisas ficam em aberto, deixando que a nossa imaginação faça o resto.

Terceiro: não vou narrar todos os fatos, somente os mais importantes para o enredo da história e para serem especulados.

O teaser se inicia com a frase “Cuidado! A fresta na porta… é uma realidade paralela. O único eu sou eu, mas você tem certeza de que o único você é você?”. De cara já somos surpreendidos com a viagem entre dimensões, em que toda porta aberta é uma nova realidade em que se entra (coisa já vista de forma parecida em Silent Hill Origins, com a passagem pelo espelho) e que será mais esclarecido logo a frente. O protagonista acorda ao som de uma porta abrindo, por uma figura misteriosa, em um quarto de concreto e escuro, com uma iluminação ruim e com várias contagens rabiscadas na parede, se referindo a quantas vezes ele já havia passado por lá.

Ainda na sala de inicio é possível ver um saco de pão em cima da mesa, levemente sujo de sangue, que começa a falar “Eu andei. Eu não fiz mais nada além de andar.  Então, me vi caminhando à minha frente. Mas não era de verdade.” e repete a mesma frase do começo para ter cuidado com a fresta na porta e entrar em realidades alternativas.

O jogador então toma o controle e ao passar pela porta se vê no corredor de uma casa, onde vale ressaltar que o relógio se encontra exatamente 23h e 59min parado, e um pouco a frente pode se ouvir um rádio dizendo sobre o assassinato de uma família, de classe média, em que o pai um dia comprou um rifle, atirou em sua esposa (Lisa, a unica integrante da família com o nome revelado) que estava grávida; seu filho mais velho veio ver o que estava acontecendo e ele o matou também. Já sua filha teve a ideia de se esconder no banheiro, porém seu pai disse a ela que era tudo um jogo.. assim, ao sair do banheiro, ela é atingida por um tiro no peito. O pai foi encontrado no carro com o rádio ligado e repetindo uma combinação de números aleatórios. Também é dito que o caso foi parecido com outro assassinato que ocorreu meses atrás, no qual o assassino era, também, um pai de família, mas não havia relação com o ocorrido.

Ao passar por uma porta no fim do corredor, o jogador encontra uma escada que dá para uma outra porta, e, ao passar por ela, novamente encontra com o mesmo corredor de antes.

Do início do corredor, novamente, ele é surpreendido por novos acontecimentos (novas realidades, novas possibilidades), dentre elas o rádio, que diz coisas diferentes, como: após o pai assassinar sua família, foi encontrado enforcado, ou seja, ocorrem linhas temporais diferentes. Também é possível ouvir uma interferência na notícia dizendo “Não mexa nesse botão agora, nós estamos apenas começando! Não confie na água da torneira. 204863. Olhe atrás de você. Eu disse olhe atrás de você!”.

Após passar pela porta algumas vezes, em uma das realidades a porta do banheiro (onde a menina foi assassinada) agora se encontra aberta, onde no chão tem uma lanterna. Ao pega-la a porta se fecha atrás dele. Trancado, no banheiro o jogador vê um buraco na parede direita e na pia se encontra o feto de Lisa vivo e chorando, até que somos surpreendidos com várias batidas fortes na porta. Assim que param, o protagonista pode sair.

Novamente após alguns “entra e sai” e de alguns encontros com a mesma figura do inicio, porém agora totalmente visível e podendo matar o jogador, um dos muitos quadros do casal possui um buraco no olho direito de Lisa e em cima da porta para outra dimensão aparece escrita a frase “me perdoe Lisa, tem um monstro dentro de mim”, o que gera duas possíveis interpretações, mas já chegaremos lá.

Mais a frente as luzes ficam vermelhas, os quadros possuem um olho, que se movimenta rapidamente em círculos, e um dos quadros está no chão e há um buraco na parede. Ao olhar pelo buraco, percebe-se que é o mesmo do banheiro. É possível ouvir o som de alguém, do sexo feminino, sendo esfaqueada e caindo na banheira, e também uma mensagem dizendo “Eu tenho uma mensagem para todos vocês em anúncio no rádio. Agora é a hora da ação. Nossa sociedade está podre por dentro, eu estou falando com o fogo, as pessoas de alto escalão têm seu corte de bem-estar, têm seus empregos arrancados debaixo deles. Sim, você! Você sabe o que fazer! Agora é a hora! Faça!”.. assim ambos os sons param e aparece escrito em cima do buraco “Agora não tem mais volta!”.

Ao entrar no banheiro, não há ninguém lá, além do feto na pia, que bizarramente conta mais um pouco da história, “Você foi demitido, então afogou suas mágoas na bebida, ela teve de arrumar um bico como caixa de supermercado. Ela só consegue receber o salário porque o gerente gostava de quando ela ia de saia. Você se lembra, não é? Exatamente 10 meses atrás.”

Assim que o protagonista completa a foto de Lisa na parede e consegue ouvir o feto rir 3 vezes, o telefone toca e segue a seguinte frase “Você foi o escolhido”.. aí o jogador pode finalmente sair da casa.

O teaser termina com uma narração dizendo:

“Meu pai era tão chato. Todo dia comia a mesma comida, se vestia igual, sentava na frente dos mesmos tipos de jogos… Sim, ele era esse tipo de cara! Mas então um dia ele mata todos nós! E ele não foi nem original na forma que fez. Não estou criticando, eu estava morrendo de tédio mesmo. Mas adivinha, eu voltarei e vou trazer meus novos brinquedinhos comigo.”

Assim finalmente é revelado o rosto do protagonista (Norman Reedus, Daryl de The Walking Dead) e ele é mostrado caminhando com uma lanterna em uma cidade abandonada, possivelmente a querida Silent Hill.

Agora vamos montar o quebra cabeça:

A figura misteriosa que aparece durante o teaser é sim o fantasma de Lisa, a falecida esposa do protagonista.

A cada porta passada, ou melhor, a cada realidade que se entra, sabemos que a família foi assassinada por completo pelo pai. Mas foi revelado dois diferentes destinos ao pai durante o teaser, em um ele é encontrado pela policia e no outro ele está morto.

Acredita-se, e é quase certo, que o protagonista de Silent Hills seria o pai da família, ou melhor, um dos pais da certa realidade.

O teaser comenta sobre a família ser de classe média e critica o bem-estar dos mais favorecidos, um tema que possivelmente o jogo final gostaria de abordar.

Eu chamei a atenção para o horário parado no relógio das 23h 59min, este é a possível hora da morte de Lisa e o feto, coisa parecida já vista na saga em Silent Hill Homecoming.

Na frase final do teaser a narração diz “Pai era…”, ou seja, se identifica como um dos filhos, que vai retornar para obter vingança.

O filho se mostra poderoso, em poder usar o rádio para se comunicar e causar aquela bagunça toda para o protagonista enfrentar, com até mesmo a capacidade de controle mental. Acredito até que, diferente dos demais jogos, o grande vilão em Silent Hills não seria a cidade, mas sim o filho que agora retorna como uma entidade demoníaca. E em sua frase próximo ao final, “Você foi o escolhido”, temos a ideia de que ele vem testando vários “Pais/Protagonista” de várias realidades, onde este que consegue sair da casa, foi o único que sobreviveu aos seu jogos sádicos.

Outra coisa que quero ressaltar é que a voz da interferência do rádio, a do telefone e a da narração final, são a mesma do feto. e comparei estas vozes de propósito, para indagar o seguinte:

E se esse filho que retorna, não for o filho mais velho, mas sim o Feto?

Ele é o terceiro integrante da família que aparece no teaser, além de Lisa e o Protagonista. Ele passa uma imagem de indefeso, já começando a história “abortado” (outro tema que o jogo final provavelmente iria abordar, era sobre o aborto), sem direito de escolher viver. Ele teve seu destaque em aparecer durante quase toda a campanha do teaser, mostrando certa importância e podendo ser a grande reviravolta do jogo final. Outra coisa que é estranha, é o filho através do rádio repetir a combinação de números dita pelo pai após o assassinato.. seria então uma forma de torturá-lo, ou ele está por trás deste controle mental o tempo todo? Remete um pouco a viagem no tempo, já que ele era apenas um feto na época.. o que teria vindo primeiro? O ódio do filho pelo pai ou o assassinato da família? Seria então o Feto um filho que viveu com a rejeição do pai por achar que era um bastardo, decide voltar atrás e fazê-lo sofrer por isso? Fazer seu próprio pai viver com essa culpa?

Mas qual a explicação para matar sua própria família? Seria ele ruim de alma? Uma reencarnação do mal? É até algo já visto na série, no primeiro e terceiro jogo, a busca pelo nascimento de uma criança demônio. Talvez seja somente um filho infeliz que adquiriu poderes sobrenaturais.

O saco de pão no inicio estranhamente aparenta ser a cabeça falante do protagonista, vinda de outra dimensão, é quem o questiona sobre “você é você?”, que pode ser interpretado como “você não é o único dentre múltiplas linhas temporais”, ou simplesmente, “você é quem costumava ser ou perdeu a cabeça?”.

Neste gancho já puxo para a frase “tem um monstro dentro de mim”, tendo duas interpretações: ou o pai se torna um alcoólatra e perde a cabeça pelo ódio, ou (por se tratar de Silent Hill) uma entidade demoníaca tomou conta de sua mente fragilizada e o fez cometar tais atrocidades.

O que levou o protagonista a ficar abalado psicologicamente?

Primeiro, ele foi demitido como já dito anteriormente.

Segundo, foi dito que Lisa só recebia se trabalhasse de saia, ou seja, uma possível segunda intenção por parte do gerente e ela, para sustentar a família, não teve outra escolha.

Terceiro, o Feto. Se até então, o marido já desconfiava de traição, uma gravidez poderia gerar ainda mais desconfiança, colocando em mente o protagonista que aquele filho “não é meu filho”, culpando a esposa e tirando a vida de ambos (novamente mostrando o Feto como importante para a história).

O retrato de Lisa sem um olho, está ligado aos olhos que aparecem nos demais quadros algum tempo depois, podendo mencionar que Lisa pode ter seu olho arrancado.

É possível também que o jogo final se preocupasse em fazer o protagonista se lembrar de seus erros, como já visto em Silent Hill 2, com James Sunderland.

O jogo final, aparentemente, também teria uma mecânica já vista no mapa “Nowhere” de Silent Hill 1,  na qual ao se abrir uma porta de um cômodo da casa, poderia entrar em uma escola, ou abrir a porta de um hotel e entrar em um hospital, podendo mais uma vez brincar com o psicológico do personagem, que não teria certeza do que está além de cada porta, mostrando até a possibilidade de não existir uma zona de conforto em usar esta mecânica em uma grande parte da campanha.

O jogo final por sinal, diferente de P.T., provavelmente teria a câmera em terceira pessoa, porque a escolha de um ator famoso para protagonizar o game seria em vão caso o jogo final fosse em primeira pessoa; algumas cenas, porém, poderiam ser alternadas para primeira pessoa, na busca de uma maior sensação de imersão.

Também vale de curiosidade a tradução de uma mensagem dita no rádio, em sueco, com uma voz destorcida que diz “Feche seus olhos. Deixe seus ouvidos ouvirem. No rádio você ouve minha voz. Pode ouvir sua própria alma gritando? Deixe-nos escolher. Minha voz conta o futuro. Bem, o que você escolhe. Sua vida, seu futuro. Inteligente do jeito que você é, deve ter descoberto, o drama de rádio de 75 anos atrás, era real. Eles estão aqui na terra, e eles monitoram tudo, veem tudo. Não confie em ninguém, nas notícias, na policia, já são controlados por eles. Já são 75 anos desde então somente o nosso melhor permanece. Somente ele pode mante-los. Você tem o direito de ser um de nós, então bem vindo ao nosso mundo. Logo, um portal para outra dimensão irá abrir. 204863. 204863…”.

Há quem acredite que esta mensagem foi feita pelo próprio Kojima aos fãs, e ao comentar sobre “Drama de rádio de 75 anos atrás”, faz menção à transmissão que deu origem ao filme A Guerra dos Mundos (original de 1953), que gerou pânico na população.

Agora, vamos unir as minhas especulações com a história de P.T., para imaginar como seria a provável história do cancelado Silent Hills:

Um pai de família, de classe média, composta por marido, mulher e um casal de filhos, perde seu emprego e entra para depressão e o mundo do álcool.

Sua esposa arruma um emprego em um supermercado, onde é obrigada a se prostituir para seu gerente, para ganhar o dinheiro, para sustentar a família.

Um dia ela aparece grávida, seu marido enlouquece e mata ela e o bebê com um tiro de rifle. Para evitar diálogo, mata seus dois filhos também.

O marido, entretanto, estava sobre influência de uma força sobrenatural que usa o rádio para se comunicar e, consequentemente, mexe com a mente do indivíduo.

Este mesmo pai se encontra perdido, sem se lembrar de nada, em um looping infinito do corredor de sua casa, passando por jogos sádicos para fugir.

Ao sair da casa, começa uma jornada onde vai buscar a sua memória, sua redenção, tendo que reviver o passado e o pior, terá de enfrentar seu “filho” que nunca foi aceito, que sofreu aborto e não teve a capacidade de escolher viver ou se defender. Mas agora.. agora está de volta, mais forte do que nunca, buscando sua vingança.

O que posso concluir é que infelizmente uma possível obra prima foi cancelada e não saberemos o que é real ou não, o que de fato seria verdade para o enredo do jogo.

E não se esqueçam:

“Em meus sonhos mais inquietos, eu vejo aquela cidade.”

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