A Capcom é uma famosa desenvolvedora e publicadora de jogos desde 30 de maio de 1979, passando por diversas fases em seus 44 anos de existência e abrigando diversos nomes talentosos que trabalharam em várias franquias maravilhosas. A Capcom é uma empresa que saiu de uma simples produtora de máquinas de arcade para uma das mais conceituadas desenvolvedoras do universo dos videogames até os dias de hoje, porém todo este caminho não foi feito só de vitórias e a empresa passou por momentos ótimos e momentos difíceis também.
Venha conhecer um pouco mais da história por trás desta empresa japonesa que sempre buscou formas de se reinventar e de ser inovadora, apresentando em sua trajetória ideias incríveis (às vezes nem tanto) e que chega aos 44 anos celebrando uma ótima fase comercial e entre a crítica especializada, com diversos lançamentos de grande sucesso e repercussão!
Primeiros anos e Arcades
A Capcom em si surgiu da separação e junção de outras empresas, no início era I.R.M.Corporation e seu objetivo era produzir máquinas de arcade para o mercado interno japonês em 1979. Logo mais, em 1983, mudou de nome para SANBI após adquirir uma subsidiária, chamada Capsule Computer. Nessa nova formação, lançaram suas primeiras máquinas com os jogos Vulgus e 1942, ambos jogos de arcade, onde o jogador controla uma aeronave enquanto escapa de obstáculos e naves inimigas em uma progressão vertical, e ainda nesses mesmos moldes, surgiu o jogo Comando.
Já em 1985 surge o primeiro grande título, Ghosts´n Goblins, um jogo de plataforma que apresenta o cavaleiro Sir Arthur em busca da princesa do reino, que foi sequestrada por um demônio. A primeira vista pode lembrar bastante os primeiros jogos do famoso encanador da Nintendo Super Mario, mas Ghostn’s Goblins tem suas peculiaridades, sendo um jogo recheado de dificuldade, onde além dos inimigos e armadilhas, ao chegar no final do jogo o jogador tem que revisitar todas as fases mais uma vez, agora com novos desafios. Também é legal destacar uma mecânica interessante, onde Sir Arthur perde uma parte da armadura cada vez que leva dano, podendo ficar só de cueca durante o jogo.
Ainda em 1985, a Capcom entrou também no mercado de consoles, graças ao lançamento mundial do NES, o famoso Nintendinho, e agora com essa nova plataforma, a Capcom estava pronta para o mundo, com o slogan “A Capcom do Japão agora é a Capcom do mundo.” Essa seria uma parceria importantíssima para ambos os lados, gerando diversos jogos icônicos e salvando a indústria como um todo.
Street Fighter, Mega Man e crossovers
Em 1987, Takashi Nishiyama traz ao mundo Street Fighter, um jogo de luta que iria revolucionar o mercado e explodir a bolha dos jogos de uma forma inédita, porém isso ocorreria só alguns anos no futuro, já que Street Fighter não foi um sucesso imediato. O jogo trouxe algumas inovações para o estilo mas nada muito além, e algum tempo depois Nishiyama saiu da Capcom e começou a trabalhar na empresa rival, a SNK, criando jogos incríveis como Fatal Fury e The King of Fighters. Enquanto isso na Capcom, Street Fighter’89, que era pra ser uma sequência do primeiro jogo, se transforma em Final Fight, um dos maiores jogos de Beat’em up e um verdadeiro clássico que chegou em 1989.
Voltando para 87, a Capcom já era considerada uma gigante dentro da indústria, aumentando sua parceria com a Nintendo e criando jogos cada vez mais incríveis, assim como Mega Man, um jogo de plataforma inspirado nos mangás e animes de Astro Boy. O jogo foi um sucesso, ganhou diversas continuações e tem uma grande base de fãs até hoje, mas seria em 1991 que surgiria o jogo que mudaria a história, tanto da Capcom como da indústria como um todo: Street Fighter 2.
Agora comandado por Yoshiki Okamoto, Street Fighter ganhou uma nova chance e dessa vez o jogo era melhor, mais bonito, mais fluido e trouxe um gameplay que seria base para os próximos jogos do estilo; o jogo em si foi um dos primeiros a furar a bolha dos jogos, ganhando adaptações para mangás, filmes, animes, livros e etc.
Uma das características mais marcantes da Capcom é sua capacidade de navegar entre os mais diversos gêneros, incluindo o RPG. Em 1993 com Breath of Fire, a Capcom começou a explorar o gênero de RPGs, que são jogos mais voltados para a narração de uma história, com batalhas em turno e muita exploração, e Breath of Fire trazia todos esses elementos sem ficar atrás de jogos como Dragon Quest e Final Fantasy.
Ainda no início dos anos 90, a Capcom fechou uma parceria com a Marvel trazendo um jogo com os heróis mais famosos dos quadrinhos, os X-Men. O título X-Men Mutant Apocalypse é um jogo de plataforma onde o jogador pode controlar vários dos mutantes mais famosos enquanto enfrenta vilões clássicos, como Magneto, os Sentinelas e muito mais. Apesar de o jogo não ter sido um sucesso imediato, ele foi muito importante para a nova fase da Capcom nos jogos de luta e plataforma, dando origem a X-Men Children of the Atom, Marvel Superheroes, X-Men vs. Street Fighter, Marvel Super Heroes vs. Street Fighter e Marvel vs. Capcom.
Todos esses jogos eram considerados uma nova “franquia” na empresa, que chegou até ao crossover mais inusitado até aquele momento: Capcom vs. SNK. Sim um jogo de luta entre os personagens das duas empresas rivais! Essa parceria gerou alguns jogos e trouxe o encontro de Takashi Nishiyama e Yoshiki Okamoto trabalhando juntos. Uma parceria que infelizmente foi desfeita pouco tempo depois, por conta de contratos e lucros entre as empresas.
Novo gênero, Shinji Mikami e Resident Evil
Depois de toda essa fase de jogos de luta (e antes do crossover com a SNK), a Capcom começou a crescer cada vez mais, abrindo uma sede em Hong Kong com o objetivo de atingir o grande mercado Chinês, além de registrar novas empresas nos Estados Unidos, aumentando cada vez mais sua área de impacto. Nessa mesma época, surgia o novo console da Sony, o PlayStation e a Capcom logo viu uma oportunidade de embarcar em um novo mercado, os jogos de terror.
Foi então que surgiu Resident Evil, um jogo de terror focado na exploração e gerenciamento de recursos, em um cenário cheio de detalhes e uma atmosfera opressora, uma trama recheada de monstros criados por vírus e mutações genéticas, diversos puzzles e uma história muito inspirada em filmes de terror e horror da época. O jogo logo se tornou um título indispensável do PlayStation, graças a toda equipe de desenvolvimento do título, em especial Shinji Mikami. Resident Evil consolidou um novo gênero, o survival horror, usando como inspiração o clássico Alone in the Dark, melhorando os conceitos apresentados e criando novos padrões para esse gênero, que seria a base para vários outros jogos, incluindo Dino Crisis, que aproveitou tudo o que fora desenvolvido em Resident Evil e aplicou em um ambiente onde as ameaças eram dinossauros. Dino Crisis foi bem popular e gerou duas continuações, porém nada mais depois disso. Já Resident Evil gerou diversas continuações durante os anos e se tornou uma das franquias mais icônicas da Capcom.
Além de Dino Crisis, Resident Evil também inspirou Yoshiki Okamoto a criar um Resident Evil de samurais.. de samurais!? Sim, esse foi o início de Onimusha, apesar de o resultado final ter sido diferente; o jogo trouxe um estilo de combate e exploração que iria inspirar outros jogos futuros. O desenvolvimento inicial foi pensado em 1997 para o Nintendo 64, mas depois foi previsto para o PlayStation, ainda assim o jogo continuava muito pesado e acabou saindo apenas no PlayStation 2 em 2001 e depois para Xbox. O jogo teve uma ótima recepção, especialmente por seu estilo de jogo, considerado inovador em seus conceitos, gerando algumas continuações e também servindo de base para outros jogos futuros, como por exemplo Devil May Cry, porém, antes de Devil May Cry, a ideia inicial era um novo Resident Evil, o quarto jogo numerado da série. Este projeto, entretanto, estava se distanciando bastante do conceito de Resident Evil, então Hideki Kamiya saiu do projeto de Resident Evil 4 para criar Devil May Cry, um jogo com inspiração em temas da divina comédia e extremamente focado em combate, criando um novo estilo de gameplay, o Hack’ n slash, onde quanto maior o combo, maior o bônus. Esse novo tipo de jogabilidade deu origem a diversos jogos posteriormente, inclusive a God of War.
Enquanto Devil May Cry surgia e conquistava novos fãs, Resident Evil estava procurando se reinventar
No início dos anos 2000, a Capcom fez um acordo de exclusividade com a Nintendo, que com a chegada da nova geração de consoles se encontrava um pouco fora do mercado. Seu novo console, o GameCube, era um dos mais potentes da geração, entretanto também era um dos mais caros e mais difíceis de se aprender para desenvolvimento, em comparação com o PlayStation 2, que era bem mais barato e mais simples, sem ter toda a potência do concorrente.
Acontece que a Capcom fez novamente um acordo com a Nintendo, dessa vez na esperança de salvar o console. Depois da trilogia de Resident Evil para o PlayStation e Resident Evil CODE: Veronica para DreamCast, uma nova leva do survival horror chegaria com exclusividade para Nintendo GameCube, o primeiro deles sendo Resident Evil Remake.
O jogo é considerado um clássico nos dias de hoje, e na opinião de muitos, o melhor Resident Evil de todos os tempos, porém na época o jogo não foi tão bem comercialmente. Gerando o suficiente para uma “continuação”, em seguida veio Resident Evil Zero, que trouxe novas mecânicas com a possibilidade de jogar com dois personagens na mesma campanha. Além de Resident Evil, jogos como P.N.03, Viewtiful Joe e Killer 7 também foram jogos produzidos exclusivamente para GameCube, com temáticas bem diferentes entre si, sendo o primeiro um jogo de ação em terceira pessoa com ficção científica, o segundo um beat’em up com uma temática mais cômica e o terceiro um jogo bem focado em história “sob trilho” e baseado em escolhas.
O “divisor de águas” Resident Evil 4
Resident Evil 4 teve um processo de desenvolvimento bem complicado, onde vários fatores externos afetaram a produção do jogo. Inicialmente o jogo teria uma trama diferente e seria bem focado no terror tendo até alucinações, porém todo o mercado externo e o baixo rendimento de Resident Evil Remake e Resident Evil Zero fizeram o quarto jogo tomar outro rumo, começando o desenvolvimento do zero e trazendo novos elementos e mais ação para a franquia.
Shinji Mikami e sua equipe estavam se esforçando muito para que o jogo utilizasse todos os recursos disponíveis do GameCube, chegando ele até a negar que o jogo poderia ser portado para outra plataforma futuramente, sendo assim o jogo não teve muito alcance quando foi lançado, justamente por ser exclusivo de GameCube, porém assim que o contrato chegou ao fim, o jogo foi portado para PlayStation 2 e finalmente explodiu.
Mesmo tendo mudado bastante coisa se comparado a seus antecessores, Resident Evil 4 foi um sucesso e revolucionou o gênero e toda a indústria como um todo, sua câmera sob o ombro e sequências de ação inspiraram diversos outros jogos que viriam, de Call of Duty até Dead Space e Outlast.
Com a nova geração de consoles, a Capcom fechou um acordo com a Xbox e desenvolveu dois jogos inicialmente exclusivos, Lost Planet que é um jogo de exploração espacial cheio de combate com alienígenas, e também Dead Rising que trouxe mais uma vez os clássicos zumbis, dessa vez em um formato sandbox e bem mais voltado para ação. Ambos os jogos receberam continuações ao longo dos anos. Ainda seguindo na ação, dois jogos que não se destacaram muito no Ocidente naquela época (mas que eram sucesso no Oriente) foram Sengoku Basara e Monster Hunter. Sengoku Basara é um jogo estilo variante de hack and slash onde o jogador enfrenta hordas de inimigos de uma vez, o jogo foi tão popular no Oriente que até ganhou uma adaptação para TV. Já Monster Hunter é um jogo de RPG onde você cria e customiza seu personagem para sair pelo mundo caçando monstros; os primeiros jogos foram muito populares nos consoles portáteis no Oriente; hoje, Monster Hunter é uma franquia que pode ser considerada a mais lucrativa da história da Capcom, sendo “Monster Hunter World” o título mais vendido de toda a empresa, comprovando o seu sucesso agora global e não mais restrito só ao Oriente.
Jogos de ação já tinham grande parte do público geral e agora só estavam ganhando mais espaço, e para Capcom a resposta era simples: continuar a ação. Okami e God Hand foram dois jogos comandados por Mikami: o primeiro um jogo cartunesco de exploração e resolução de puzzles, e o segundo uma nova cara para os clássicos de beat’em up, onde o objetivo era aprender e dar novos golpes frenéticos. Ambos os jogos foram bem recebidos pelo público mas não venderam tanto, o que levou a dissolução do Clover Studio e posteriormente a saída de Mikami e Kamiya da Capcom. Os dois fundaram o Platinum Games, estúdio que foi responsável posteriormente pelos grandes jogos Bayoneta e Vanquish.
Um pouco antes desta fase, Street Fighter 3 passou despercebido, lançado primeiro para Dreancast e com um elenco de personagens novos; apesar da morna recepção, o jogo é bastante elogiado pelos fãs mais fanáticos de jogos de luta. Já Street Fighter 4 trouxe de volta o elenco de Street Fighter 2 mas agora com os novos gráficos e jogabilidade da geração PS3/360, e se confirmou como um jogo excelente que trouxe a franquia de volta ao gosto do público.
Resident Evil 5 chegou em 2009, e a ideia seria expandir toda a ação do seu antecessor além de trazer cenas e sequências dignas de filmes blockbusters de ação, tentando encaixar o jogo no padrão de jogos de ação da época; para isso, muito do conceito clássico de exploração e recompensa por superar os medos ficou para trás. Ainda assim, Resident Evil 5 conseguiu vender muito, especialmente por atrair novos jogadores, além de possuir um ótimo Modo Mercenários, que é super divertido de jogar, e sem nos esquecermos de suas DLCs que também são bem feitas e divertidas, em especial Lost in Nightmares, que traz um pouco do sentimento do jogo original de 1996, em uma mansão e com os dois protagonistas originais da série explorando o local. Durante muitos anos, Resident Evil 5 foi o jogo mais vendido de toda a história da Capcom, sendo superado por Monster Hunter World e depois por Resident Evil 7.
Apesar de vender bem, nesta época, a franquia Resident Evil estava afastando um pouco os fãs mais antigos da série.
No inicio dos anos 2010, toda a indústria de jogos passava por dificuldades, a própria Capcom tentava adaptar todas suas franquias para agradar um publico muito amplo, muitas vezes se preocupando em mudar muito o que foi estabelecido anteriormente. Um dos poucos casos de sucesso dessa época foi Mavel vs Capcom 3.
O jogo saiu em 2011, e trazia diversos personagens e gráficos mais para o estilo cartoon. porém o jogo foi lançado antes da hora, segundo a Capcom isso foi feito para levantar as vendas por conta da catástrofe causada pelo tsunami em Tohoku na época. Logo depois a versão Ultimate do jogo saiu, com mais personagens e com preço de jogo completo. A prática foi mal vista pela indústria e deixou a Capcom sob um péssimo olhar. Devil May Cry 4 e Dragon’s Dogma também foram jogos dessa época, e mesmo sendo bons títulos, eles não foram grandes sucessos e não eram o suficiente para sustentar a empresa.
Então vem a “grande” aposta da Capcom
Três novos jogos de Resident Evil estavam por vir, um deles prometia trazer de volta o survival horror em um jogo para 3DS, outro seria um multiplayer cooperativo, e também teríamos Resident Evil 6, este que prometia agradar todos os fãs da série com 3 campanhas diferentes, personagens clássicos, survival horror, ação e novas ideias.
Tudo parecia perfeito.
Resident Evil Revelations é lançado em 2012, trazendo um novo ar para a franquia, um jogo com uma história mais elaborada em forma episódica e cheia de reviravoltas e surpresas, em um gameplay cheio de exploração e criaturas grotescas. Um jogo excelente mas que atingiu poucas pessoas, afinal foi lançado originalmente para Nintendo 3DS e só depois chegou aos consoles de mesa e PC, onde a coisa estava mais complicada para Resident Evil.
Resident Evil: Operation Raccoon City deveria ser um jogo cooperativo multiplayer, mas estava cheio de problemas no lançamento e não atendeu as expectativas, ainda assim vendeu bem, muito por conta do hype e do modo multiplayer. O problema mais grave mesmo veio com Resident Evil 6: o jogo queria agradar todos os fãs mas acabou afastando a maioria deles, com gráficos ultrapassados e jogabilidade estranha, as histórias eram cheias de erros e furos, acontecimentos sem sentido e todo este pacote acabou desagradando grande parte dos fãs. Nem seus modos extras ajudaram o jogo a obter boas críticas, e isto deflagrou uma espécie de crise dentro da Capcom.
Outras franquias da Capcom também passavam por problemas
Na década de 2010, Monster Hunter não tinha mais impacto nos portáteis, afinal, a nova moda eram os smartphones, e alguns jogos tinham seu final verdadeiro vendido em DLCs como aconteceu com Asura’s Wrath. Outros jogos, como Remember Me, Bionic Comando e Darkvoid tiveram vendas insatisfatórias, e considerando que foram desenvolvidos por estúdios terceirizados, o gasto foi bem maior. Resident Evil Revelations 2 era um bom respiro, o jogo era divertido e trazia uma boa história, mas não recebeu tanto investimento, o que atrapalhou o desempenho do jogo. Usando o MT Framework, o investimento não foi suficiente para garantir a criação de um bom jogo tecnicamente, então problemas de performance aconteciam.
Nesta época, vários estúdios foram fechados e diversas pessoas perderam o emprego. A série Versus sofreu mais uma vez, com o lançamento de Street Fighter vs Tekken. O jogo parecia ser mais simples porém chegou com várias limitações e diversos conteúdos que só podiam ser acessados por DLC. E até Devil May Cry sofreu com o jogo DmC de 2013, que não agradou a todos, apesar de ser ótimo. Um outro ponto fora da curva também se viu em Street Fighter V de 2016, lançado para PS4 e PC: cercado de expectativas, o jogo não foi uma unanimidade entre os jogadores fãs de games de luta e vendeu abaixo do esperado.
A Capcom lutava para trazer algo novo e tentar se salvar
“Só façam algo divertido e assustador”. “Façam algo realmente bom, e o resultado virá”, Estas foram palavras do presidente da Capcom, Kenzo Tsujimoto, sobre o desenvolvimento de um novo Resident Evil. A Capcom precisou dar um passo para trás, precisou analisar a situação, ficou muito próxima da falência, mas se existe um problema, existe uma forma de resolver, e a solução foi voltar às origens.
Em 1996, Shinji Mikami dizia que o objetivo de Resident Evil era trazer ao jogo uma certa carga de tensão mas também uma carga de sensação boa quando o jogador supera os medos, e tudo tinha que estar em equilíbrio. Nesta proposta, mas claro sem Mikami envolvido, chega Resident Evil 7 como um “soft reboot”, até a logo indicava algo totalmente novo. O jogo representava um novo recomeço para a franquia e para Capcom também, com a metodologia de “menos é mais” e maior atenção a detalhes, criando um ambiente aterrorizante. Resident Evil 7 chegou em 2017 estreando o novo motor gráfico da Capcom, RE Engine, e por ser em primeira pessoa, espantou muitos fãs, porém o tempo comprovou seu sucesso comercial e ainda de crítica.
Sobre a RE Engine, apesar de ter “RE” no nome, o motor não é exclusivo ou algo do tipo para Resident Evil: significa Reach for the Moon. Usando ele com novas técnicas de fotogrametria, mais atenção aos sons e cenários, Resident Evil 7 foi um belo respiro para Capcom, uma verdadeira ressurreição para a longeva série, mesmo que apresentasse alguns pequenos problemas relacionados ao desenvolvimento do motor gráfico.
Logo em seguida Devil May Cry também voltou! Usando a RE Engine, Devil May Cry 5 acertou em cheio o coração dos fãs e da crítica e ficou lindo, resolvendo também alguns dos problemas iniciais vistos em Resident Evil 7. Monster Hunter também voltou com um jogo excelente em 2018, Monster Hunter World (que já citamos neste artigo) trazendo mais uma franquia de volta aos holofotes com indubitável sucesso.
Como se não bastasse, em uma jogada de mestre, em 2018, a Capcom anuncia a produção de um remake de Resident Evil 2, algo que os fãs vinham pedindo há anos! Diferente de Resident Evil 7, o jogo traria a câmera sobre o ombro que ficou famosa em Resident Evil 4 e buscaria ser o mais fiel possível ao jogo clássico de 1998, ao mesmo tempo que acrescentaria novidades no enredo e em algumas sequências já conhecidas do jogo antigo. Seria mais um jogo produzido na RE Engine, abusando do realismo gráfico, com trilhas sonoras arrepiantes e bastante similaridade ao jogo original. O sucesso de RE2 Remake foi instantâneo e, assim como ocorreu com RE4 clássico, RE2 Remake começou a servir de inspiração para outros estúdios produzirem também os seus games, fossem eles inéditos ou até mesmo remakes (e daí surgiram, por exemplo, Dead Space Remake, Silent Hill 2 Remake, The Callisto Protocol, entre outros). Resident Evil 2 Remake é hoje um dos jogos mais vendidos de toda a história da Capcom, uma verdadeira referência em seu tempo.
Novos desafios para se manter no topo
Com esses lançamentos, a Capcom pode respirar aliviada, fora da zona de perigo e já focada em continuar produzindo grandes jogos, sendo eles Street Fighter 6, Resident Evil 3 Remake, Resident Evil Village e Resident Evil 4 Remake.
Resident Evil 3 Remake foi anunciado menos de um ano depois de RE 2 Remake, e após o frenesi, dúvidas surgiram sobre o desenvolvimento do jogo, por conta do aparente pouco tempo, e no fim RE 3 Remake chegou e foi bem divisivo. O jogo re-imaginou o clássico, mas deixou muita coisa para trás, além de trazer mudanças que não agradaram muitos fãs; ainda assim é um jogo divertido e que conquistou vários fãs novos. O jogo também veio com “Resident Evil Resistence”, que foi uma tentativa de criar mais uma vez um jogo cooperativo online, mas que não obteve um resultado positivo e é visível que o desenvolvimento desse “mini jogo” afetou a produção do jogo principal, isso aliado ao fato de o jogo ter sido desenvolvido por um time terceirizado, o que abaixou a esperança de muitos.
Pouco tempo depois, Resident Evil Village foi anunciado e confirmava alguns rumores “preocupantes”, como vampiros, lobisomens e bruxas, mas esses rumores estavam fora de contexto, e Resident Evil Village chegou em 2021 muito inspirado em alguns elementos de Resident Evil 4, o que levantou muita bola para um possível remake do jogo. Resident Evil Village foi um bom jogo, um pouco dividido em opiniões, mas a gameplay de RE 7 estava ali, infelizmente a história ficou meio bagunçada e mal explicada, mas o jogo teve boas reações e ainda ganhou uma DLC que trouxe muito mais perguntas que respostas e teve uma reação mais divisiva ainda.
Resident Evil Village seguiu os moldes de Resident Evil 7 trazendo uma gameplay em primeira pessoa aprimorada e registrando boas vendas iniciais, porém, pouco após seu lançamento, só se falava nos rumores do vindouro Resident Evil 4 Remake, o que cercou o jogo de imensa expectativa. Resident Evil 4 Remake chegou em março de 2023 e foi completamente bem recebido, com uma avalanche de críticas positivas e diversas notas muito altas, especialmente no agregador notável Metacritic, onde ultrapassou a nota 90. O jogo recebeu um carinho especial em todo o seu desenvolvimento, mantendo o conceito do jogo original e ainda adaptando outras coisas nessa nova versão, com eficiência. Já temos publicados diversos artigos aqui em nosso site falando sobre Resident Evil 4 Remake, considere ler esse artigo para conferir mais detalhes e curiosidades deste incrível título, que é só a mais recente prova de todo o sucesso que a Capcom vem obtendo recentemente com seus lançamentos.
E quanto ao futuro?
Com a chegada de Resident Evil 4 Remake e o sucesso dos seus lançamentos registrados nos últimos anos, especialmente desde o lançamento de Resident Evil 7, a Capcom oficialmente voltou a gerar lucros recordes e está crescendo novamente, além de estar comemorando o super bem-sucedido lançamento de Street Fighter 6, que vem agradando público e crítica, batendo recordes na Steam e angariando notas muito altas! Após passar por apuros nos anos 2010 com diversos de seus títulos, desde 2017 pode-se dizer que a Capcom passa por uma excelente fase, tendo feito as pazes com os fãs de suas franquias mais importantes, registrando lucros em consecutivos anos fiscais, e conquistando críticos especializados ao redor do mundo.
Esta excelente fase já tem programados seus próximos passos: o lançamento de uma expansão para Monster Hunter programada para o segundo semestre deste ano (e ainda com suspeitas sobre o lançamento de um novo jogo para a série), a chegada do multiplayer Exoprimal (que pode estar “escondendo” o futuro anúncio de Dino Crisis Remake) e o lançamento de Pragmata e Dragon’s Dogma 2. Até mesmo a franquia Dead Rising pode estar ensaiando um retorno, e sabemos também que um próximo Resident Evil numerado não tardará a ser anunciado.
A Capcom, famosa por suas pesquisas de opinião, lançou recentemente mais uma, onde pergunta aos fãs quais são os próximos remakes de seus títulos clássicos que eles adorariam jogar, o que pode ser um indício para vermos em breve títulos como Resident Evil 5 Remake, Resident Evil CODE: Veronica Remake e o já citado Dino Crisis Remake serem anunciados. O desenvolvimento da RE Engine provou-se um gol de placa e os próximos jogos da empresa devem usar e abusar deste motor gráfico, mantendo a qualidade dos games em um nível alto, o que agrada sem dúvida a todos.
O futuro da Capcom é algo difícil de precisar com certeza, mas já vimos nesses mais de 40 anos que ela sempre esteve disposta a tentar novas ideias e sempre buscou formas de superar os desafios, apresentando jogos que mudaram a indústria como um todo, acumulando uma grande legião de fãs e, principalmente, trazendo novos fãs. A Capcom possui todas as ferramentas necessárias para voltar aos anos de ouro e continuar no topo entre as desenvolvedoras, e no fim, para nós isso significa mais e mais jogos incríveis para jogarmos. Vida longa à Capcom!
Nascido em 2002, um escritor aterrorizado e apaixonado por histórias de terror!