Com a estreia do primeiro e excelente episódio da série de The Last of Us da HBO, naturalmente, as atenções vão se voltar para o primeiro título da franquia nos games não só para fins de comparação no tocante à fidelidade, mas também a comparação de qualidade das duas obras. Nesse clima de revisitar o primeiro jogo, algumas mentes da Naughty Dog por trás do aclamado game puderam manifestar em diferentes oportunidades aquilo que poderia ser e o que quase foi diferente na produção.
Em primeiro lugar, ressaltamos uma decisão comentada por Neil Druckmann em post no blog oficial da Naughty Dog: aparentemente, a ideia era de que o jogo iniciaria com Joel e não Sarah.
“O início do jogo foi uma das últimas coisas que finalizamos quando estávamos fazendo The Last of Us”, disse o presidente da Naughty Dog e co-diretor de The Last of Us, Neil Druckmann. “Durante muito tempo, o plano era jogar como Joel, não jogar como Sarah, e você como Joel ouvia barulho na casa do vizinho, passava por lá, via que eles estavam infectados. Então você voltaria e pegaria sua filha… e então todo o resto [no jogo final] foi como foi planejado.” – esclarece Druckmann
Por mais que não pareça uma decisão tão significativa, especialmente pelo resto do jogo todo ser com Joel, o fato desse início ser com uma criança inocente que não entende o que está acontecendo faz tudo parecer ainda mais misterioso, ameaçador, e cria um sentimento de impotência e incapacidade de compreender o surto que está abalando sua frágil realidade. A transição para Joel, ocorre em um momento de mais compreensão, ou seja, a hora de confrontar a já conhecida ameaça, e tudo isso fica mais evidente pela fala de Druckmann:
”Mas começar a aventura e vivenciar tudo isso pela perspectiva de Joel parecia… familiar para a equipe. Querendo diferenciar a história de outras de seu gênero, a ideia de jogar como Sarah surgiu durante um brainstorm de design. Com isso, tudo meio que se encaixou. Parecia uma visão realmente única [desta história]. O fato de você estar vendo isso através de uma criança muito inocente tornou tudo mais assustador, mais assustador, e isso se tornou a estrela do norte. Ter essa perspectiva definida afetou a abordagem de toda a equipe para dar vida a essa introdução.”
Pode-se dizer que atualmente, é um grande consenso a carga emocional que o começo com Sarah imprime no jogador, atestando o êxito dessa decisão da equipe de produção. O fator medo também era algo que Bruce Straley, o co-criador de The Last of Us, gostaria de ter explorado mais no primeiro jogo: de acordo com declaração de Straley no LA Times, sua experiência e conhecimento obtidos com a pandemia de COVID-19 poderiam ter sido úteis para criar um terror ainda mais profundo:
“Não fomos reais o suficiente sobre o nível de ansiedade e tensão que todos os personagens teriam naquele mundo”, disse o co-diretor do jogo The Last of Us. Se você voltar aos primeiros dias da pandemia, nem estamos falando de infectados que entram pela janela da frente e comem sua cara, só por causa da notícia de que existe a possibilidade de você ficar gravemente doente, possivelmente morrendo com esse vírus, há muito trauma dentro disso e acho que o mundo de The Last of Us teria muito mais personagens quebrados. Acho que as pessoas têm resistido muito bem, dado o mundo em que as colocamos, em comparação com o que sei agora sobre passar por uma pandemia”. – conclui Straley.
The Last of Us é uma obra prima, e poder conhecer essas percepções diretamente dos criadores da obra é uma experiência que reforça a capacidade criativa das mentes por trás de um dos maiores jogos da história.
Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil