Ao passar dos anos vimos inúmeros casos de jogos de survival horror se destacando por trazerem inovações para o gênero ou até mesmo por utilizarem o que já é conhecido mas abordando os elementos de formas diferentes. Dentre esses casos que vimos ao longo dos anos, temos as franquias Resident Evil e Silent Hill que se tornaram de grande importância para o gênero e hoje são referências do mesmo, mas e quanto ao inicio de tudo, aquele jogo que inspirou essas franquias e deu inicio ao gênero como conhecemos hoje?
Para aqueles que não sabem, assim como os jogos do gênero FPS têm como “pai” as franquias Doom e Wolfenstein, o gênero survival horror tem como seu “pai” a série Alone in the Dark, que está completando 32 anos em 2024; para marcar esse momento, tivemos o lançamento de um remake/reboot da série, feito pela Pieces Interactive.
O primeiro Alone in the Dark foi lançado em 1992, um período em que sequer existia os consoles que temos hoje em dia, como PlayStation e Xbox, mas o jogo marcou muito na sua época, e agora que temos aparelhos mais modernos e potentes, a THQ Nordic decidiu investir nessa franquia antiga mas muito amada pelos amantes de survival horror trazendo o seu remake/reboot com uma “visão modernizada”, com uma jogabilidade moderna, com alguns ajustes em seu roteiro e com uma maior duração.
Será que foi uma boa ideia tentar modernizar um jogo já datado mas muito amado pela sua fanbase? Algumas notas dizem que não, mas vamos ver se Alone in the Dark (2024) pode valer o seu tempo e investimento.
Esta análise foi escrita graças à colaboração dos nossos amigos da Manual dos Games, que nos cederam o acesso ao jogo, amigos a quem deixamos nossos mais sinceros agradecimentos!
Plataformas e ano de lançamento: PlayStation 5, Xbox Series S|X e PC – 2024
Desenvolvedora: Pieces Interactive
Publicadora: THQ Nordic
Gênero: Survival Horror
Número de jogadores: 1
Como dito no inicio dessa análise, Alone in the Dark é o pai do gênero survival horror, e muitos pensam que ter uma história com dois protagonistas com histórias similares mas cutscenes diferentes foi algo que se originou na franquia Resident Evil, porém essa ideia veio de Alone in the Dark e a franquia da Capcom apenas melhorou o conceito que posteriormente veio a atingir novos patamares com outros jogos que foram saindo no decorrer dos anos. Vamos nos aprofundar um pouco mais no remake de Alone in the Dark que, assim como no original, nos apresenta a Emily Hartwood e o seu detetive particular Edward Carnby no meio dos assustadores eventos em Decerto por meio de seus pontos de vistas totalmente diferentes.
A história de Alone in the Dark começa de forma bem similar ao jogo original se passando na Louisiana dos anos 20. Aqui, Emily contrata o detetive particular Edward para ir com ela até o asilo para ricaços chamado Decerto, em busca do seu tio Jeremy, que em sua comunicação mais recente informou que estava sendo perseguido pelos funcionários do local antes de desaparecer misteriosamente. Como um clássico começo de filmes de terror, Alone in The Dark já tenta deixar explicito ao jogador que a mansão de Decerto é envolta em mistérios e misticismos; além disso, desde o começo, os jogadores são apresentados a um elenco um tanto estranho de funcionários e pacientes do local, que possuem maneiras e estilos totalmente diferentes um do outro, fazendo com que o clima de suspense paire no ar, ficando mais evidente conforme vão acontecendo transformações físicas, mentais e até espirituais nesse elenco, além claro das mudanças de ambiente dentro da mansão, dando espaço a um horror inominável.
Diferente de outros jogos do gênero que vimos recentemente, como é o caso de Alan Wake 2, Alone in the Dark se desenrola de forma direta, trazendo uma construção clássica e linear, homenageando os jogos clássicos com uma linguagem simples mas não perdendo seu brilho ao entregar um trabalho do gênero.
Antes de citarmos sobre a sua jogabilidade, é interessante falarmos sobre a ambientação de Alone in the Dark, já que ela anda lado a lado com o seu enredo; a mansão Decerto consegue ser enigmática do início ao fim, principalmente pelo fato dela ser o ponto central onde a história se desenrola. Além disso, a equipe de direção de arte fez um trabalho fantástico dando vida a esse espaço que vai se adaptando naturalmente conforme avançamos na trama, como por exemplo o mofo que corrói partes do imóvel e que vai aumentando conforme os horrores da mansão vão se revelando. Percebe-se que houve um cuidado especial na criação da mansão, fazendo com que histórias fossem contadas através dos objetos, formas espalhadas pelos cômodos e até mesmo pela própria arquitetura do local, um claro exemplo disso é como cada paciente tem o seu próprio quarto e como os detalhes em cada um deles revelam a natureza e personalidade desses personagens.
Claro que essa atenção especial não foi dada somente a Decerto, mas também foi dada aos ambientes metafísicos nos quais os protagonistas passam boa parte do horror. Ali vemos um cuidado em demonstrar a história e cultura do local com todos os itens disponíveis, até mesmo os itens de combate como pás e remos condizem com seu local e uso, tornando assim um trabalho primoroso por parte da equipe que percebeu que um bom terror deve também possuir uma ambientação que condiz com o mesmo.
Agora que falamos sobre suas qualidades está na hora de mencionarmos alguns dos motivos que estão fazendo Alone in the Dark não ser muito bem recebido pela critica e pelos jogadores. O primeiro ponto seria a sua jogabilidade, que à primeira vista parece ser básica e semelhante ao que vemos em outros jogos de survival horror, podendo ser expandidas ou reprimidas dependendo do cenário. Aqui podemos notar que os desenvolvedores preferiram uma abordagem mais investigativa usando enigmas e deixando de lado o combate, não no sentido de faltar momentos de ação no jogo, mas sim no fato de não ter um investimento maior no sistema de combate, como um sistema de upgrade ou o fato de termos apenas quatro tipos de armas apenas ou a baixa variedade de inimigos. São coisas que podem não parecer impactar tanto na experiência, mas quando comparamos com os últimos jogos do gênero vemos que Alone in the Dark deixa a desejar nesse quesito.
Outro problema que pesa na experiência final do jogo é o trabalho feito com as vozes do elenco. Aqui temos grandes nomes como Jodie Comer e David Harbour que dão vida respectivamente à Emily e Edward, porém ambos entregam uma atuação sem qualquer paixão pelo trabalho; pode-se dizer que ambos os atores fizeram um dublagem totalmente no modo piloto automático, o que fica evidente ainda mais com David Harbour, que já nos entregou trabalhos incríveis como Hopper, de Stranger Things, ou o Guardião Vermelho, de Viúva Negra.
Pra fechar a sua cartela de contratempos, Alone in the Dark traz um dos problemas que temos enfrentado muito nos jogos atualmente, que são seus gráficos já datados, um problema que é alvo de discussões bem acaloradas, ainda mais quando colocamos a performance no meio dessa discussão, porém quando falamos de gráficos para um jogo desse gênero fica difícil de defender Alone in the Dark, que até tem gráficos bonitos, mas fica complicado defendê-lo quando o colocamos lado a lado com o já citado Alan Wake 2 que traz gráficos belíssimos e mesmo tendo um performance questionável também, sempre levamos em conta que seus gráficos tem grande impacto em sua performance.
Apesar de todos os seus problemas Alone in the Dark (2024) consegue de certa forma honrar o legado da franquia, mas que não chega ao nível do original. Apesar de tudo, o jogo é modesto e se esforça em alguns pontos para trazer um boa experiência trazendo uma mistura com a loucura das histórias de Lovecraft, juntamente com uma ótima ambientação e uma história enigmática que consegue prender o jogador do começo ao fim; pode-se dizer que o jogo é sim uma boa experiência para os fãs de longa data e para os amantes de survival horror antigos ou atuais, porém é bom destacar que o jogo se tornará mais interessante em uma provável promoção nas lojas.
Esta análise foi escrita graças à colaboração dos nossos amigos da Manual dos Games, que nos cederam o acesso ao jogo, amigos a quem deixamos nossos mais sinceros agradecimentos!
20 anos, paulista, Redator do Evilhazard, amante de jogos indies (em especial jogos de terror indies) e oldshool gamer!