Fale Comigo, novo filme da A-24, traz uma proposta já usada, mas com uma ótica diferente, com um novo objeto amaldiçoado e ainda adolescentes irresponsáveis e com falta de inteligência. Por que isso tudo (normalmente sinônimos de filmes de terror ruins), entretanto, funciona bem aqui?
Um grupo de amigos descobre uma mão embalsamada que lhes permite conjurar espíritos. Viciado na emoção, um deles vai longe demais e abre a porta para o mundo espiritual.
Precisamos começar dizendo que Fale Comigo não é o típico filme de espíritos que vemos regularmente nas telas do cinema. Apesar de ter um roteiro não tão bem trabalhado, os irmãos diretores Danny e Michael Philippou conseguem deixar o filme intrigante se usando justamente da perspectiva da protagonista, desenvolvendo a história através do luto dela, o que também é o que movimenta a trama inteira. Também foram ótimos usando a perspectiva, principalmente com o pai da protagonista sempre meio nas sombras ou fora de foco, para mostrar como a personagem se afasta dos outros e é considerada esquisita. Os irmãos Philippou conseguem tirar bons sustos e criar uma história interessante.
O objeto destaque do filme, a mão embalsamada da médium morta, funciona como uma versão melhorada do tabuleiro ouija. O grande diferencial é que, diferente do tabuleiro, não é algo que conseguimos reproduzir em casa por ser algo tão único. As regras são claras, o que deve ser dito e por quanto tempo se pode ter o contato. O problema é que sempre tem alguém para quebrar as regras.
Como de costume da A-24, o terror acaba virando alegoria para outra coisa. No caso de Fale Comigo, o consumo de drogas e substancias ilícitas. Nós vemos os personagens usando a mão em festas ou entre eles, rindo e se divertindo, e sempre querendo mais daquela sensação, exatamente como no uso de drogas, até que alguém tem uma overdose e tudo muda. No caso da protagonista, nós até vemos uma alusão ao vício, a partir do ponto que, para contatar a falecida mãe, mesmo depois do grande problema causado pela mão, ela continua usando-a.
O filme conta com uma direção sensacional e uma metáfora bem feita ao uso de drogas. A insensatez, irresponsabilidade e burrice dos personagens funcionam por serem condizentes com a trama. Eles são adolescentes idiotas exatamente como a trama quer retratá-los, mas o roteiro acaba sendo pouco trabalhado, deixando alguns furos e ainda entregando um final que, mesmo fechado e compreensível, deixa o filme um pouco raso.
Fale Comigo é um filme que vale a pena a assistida. Se você achar ou te mostrarem qualquer coisa que atraia espíritos, por favor, não mexa.
Nascido em 1996 em Bauru (SP). Redator e Editor de Vídeos do EvilHazard. Escritor publicado. Diretor e roteirista de cinema.