M. Night Shyamalan é um dos maiores diretores de suspense, mistério e horror de todos os tempos, apesar de não acertar todas as vezes. Dessa vez, Shyamalan decidiu produzir mais um filme mas quem assumiu a sua direção foi Ishana Shyamalan, sua filha. Estamos então diante de um filme com duas gerações de Shyamalans produzindo. Mas deu certo isso? O filme vale a pena?
A jovem traumatizada Mina, que trabalha em um pet shop, recebe o trabalho de entregar um pássaro nos arredores da Irlanda, mas no caminho seu carro quebra e ela se vê presa em uma floresta com três outras pessoas onde são observados todas as noites por criaturas desconhecidas.
A trama, adaptada do livro de mesmo nome de A. M. Shine, traz uma história muito boa e que possuía um enorme potencial, mas o roteiro e direção de Ishana acabaram com esse potencial. Isso porque Ishana é falha em criar qualquer tensão no filme ou qualquer senso de perigo real. Mesmo na cena onde duas personagens acabam fora do lugar seguro durante a noite, onde segundo o que nos é dito estariam em extremo perigo, é possível sentir que elas não correm qualquer risco.
O maior problema do filme, porém, não é a direção. É o roteiro.
O filme tem um começo extremamente acelerado, onde acontecem coisas que não fazem muito sentido, como a protagonista decidir contar toda sua história e seu trauma para o pássaro, sem qualquer razão plausível para fazer isso. Ou até mesmo em criar regras para a segurança dos personagens, que são quebradas continuamente antes e depois de serem ditas e não ocorrer qualquer consequência disso. A primeira regra é “não fique de costas para o espelho” e logo em seguida vemos a personagem deitada de costas para ele e absolutamente nada acontece.
Sem falar que a personagem decide quebrar as regras imediatamente após ouvi-las. Isso pro espectador, porque eles ficam meses lá e ela vê as regras funcionando, mas o espectador não vê nada disso: para o espectador, ela ouviu a regras e logo depois perdeu a paciência e decidiu quebrá-las. Não tem construção, não tem desenvolvimento. Tudo nesse filme parece jogado na nossa cara. 
Os personagens também são vazios. Quando recebemos a informação de que Mina perdeu a mãe, claro nos sensibilizamos, isso até ouvirmos que a mãe faleceu a 15 anos. O que fazer a gente passar da sensibilidade para “por que ela ainda está sofrendo tanto por isso?”. E os outros personagens são desinteressantes, não sabemos nada sobre eles. É impossível se apegar a alguém e torcer para o sucesso deles nesse filme. Isso também porque eles recebem todas as informações de que precisam de mão beijada. Seja pela velha que sabe de tudo, mas só decide compartilhar informações quando é conveniente, ou por literalmente acharem fitas de outra pessoa explicando tudo e ainda dando um meio de fuga para eles. E tudo isso leva a um terceiro ato fraco e decepcionante.
Nem tudo é ruim no longa, entretanto. Toda a parte visual do filme e o design de produção são muito bons. A floresta, os monstros, é tudo muito bem feito. Também não há nada a falar das atuações senão coisas boas. Diante do que o filme propunha, os atores fizeram um ótimo trabalho.
Em conclusão, Os Observadores foi um ótimo potencial desperdiçado. Acreditamos que no livro as coisas devem fazer mais sentido e ser bem melhor, mas a adaptação foi fraca e acreditamos que se caísse na mão de outro diretor(a) mais experiente teríamos um resultado bem melhor. Nas mãos de M. Night Shyamalan, talvez?
Nascido em 1996 em Bauru (SP). Redator e Editor de Vídeos do EvilHazard. Escritor publicado. Diretor e roteirista de cinema.
