O tão aguardado lançamento de Resident Evil 4 Remake fez a internet inteira sacudir! Imediatamente, a boa recepção do jogo ficou bem clara por meio da crítica e do público, o qual abraçou o novo título da Capcom! O EvilHazard teve acesso a Resident Evil 4 Remake de forma gratuita e antecipada, horas antes do lançamento oficial, dessa maneira agradecemos a equipe da Capcom Brasil pelo envio do jogo e agradecemos mais ainda a todos os nossos seguidores que estavam aguardando para ver nossas considerações sobre o tão aguardado Remake e que apoiam nosso trabalho no EvilHazard todos os dias!
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Fique a seguir com a nossa Análise de Resident Evil 4 Remake, e avisamos que após as considerações sobre quesitos técnicos e de jogabilidade, entraremos com SPOILERS envolvendo a história, a franquia e o destino de alguns personagens! Importante também acrescentarmos que trataremos o jogo aqui pelo título “Resident Evil 4 Remake” e não “Resident Evil 4” (que seria o título oficial dado pela Capcom), para melhor identificação por parte de nossos leitores.
Gráficos e ambientação:
Em se tratando de quesitos visuais, não é nenhuma surpresa que o jogo sustente toda a beleza apresentada nos trailers e materiais de divulgação; existem momentos em que o jogador vai querer apenas parar e ficar olhando tudo que se tem para ver! A diversidade visual desse jogo em comparação com o original é impressionante, existem visuais de final da tarde belíssimos no vilarejo, em que o sol cria efeitos muito belos de iluminação na folhagem, nas montanhas e no castelo ao longe. A direção de arte de Resident Evil 4 Remake está de parabéns por recriar ambientes que quando percorridos pelo jogador, imediatamente torna-se possível identificar qual é o cenário em relação ao clássico; contudo, as diferenças de paleta de cores, construções e detalhes são suficientes para criar uma condição de ser parecido o suficiente para ser fiel e diferente o bastante para ser algo novo.
Elogios devem ser direcionados também para as construções e seus interiores, o Resident Evil 4 original era um jogo detalhado, sem dúvidas, entretanto esse remake fez o que as limitações de hardware dos consoles antigos não permitia, unindo a potência das atuais tecnologias de games com a criatividade e inspiração dos artistas do jogo, de modo a adicionar uma quantidade substancial de identidade e detalhes a tudo! Esse jogo é cheio de identidade e personalidade em seus ambientes, a vila é pesadamente uma ambientação com uma estética de folk horror, explorando a decrepitude das cabanas dos ganados e aprofundando isso quando o jogador explora os cenários interiores, exteriores e encontra amuletos, penduricalhos feitos de restos mortais humanos e animais, além da grande sensação de estar percorrendo um mundo abandonado.
Isso fica nítido também quando esse jogo replica uma qualidade muito digna de Resident Evil desde o primeiro jogo: a capacidade de contar histórias por meio dos ambientes. Isso se dá especialmente quando é possível ver fotos antigas e imaginar que os ganados um dia foram pessoas normais, além de coisas interessantes também como presença de grandes quantidades de vacas mortas em uma pilha, sugerindo que o vilarejo estava passando por um período de dificuldades devido a uma pestilência que afeta a pecuária, algo confirmado mais tarde em um arquivo.
O castelo e a ilha também não ficam atrás no quesito ambientação, a construção da vila para o castelo é perfeita no quesito de ambiente, o castelo dá sequência ao terror cultista da vila só que com uma pegada mais gótica e ainda mais religiosa, além de explorar uma diversidade de ambientes como masmorras, cavernas, jardins e as muralhas da construção. Falando da ilha, a ambientação da mesma é amplamente uma melhora do cenário original e de todos os mapas de RE4 Remake, é o que pareceu ter menos trechos reimaginados, sofrendo inclusive alguns cortes como a área do U-3 e o próprio inimigo.
Desempenho e Bugs:
A experiência do EvilHazard com Resident Evil 4 Remake para este artigo foi realizada por meio de um PlayStation 4 PRO; nesse sentido, é esperado que não fosse ter o desempenho igual ao de um PS5 ou Xbox Series. Apesar do desempenho no geral ter sido excelente e consistente, houve momentos que quebraram um pouco a imersão visual como por exemplo: paredes sem renderizar direito quando o jogador vai abrir uma porta, algumas quedas de frame leves ao iniciar o jogo e quedas de frame pesadas em momentos de muitas partículas na tela, como quando Salazar e Saddler disparam jatos de ácido que acertam Leon em cheio.
Em se tratando de bugs, foram pouquíssimos os que afetaram diretamente a experiência de gameplay. Além do que já foi citado anteriormente referente à quedas de frame, há um bug quando Leon atira em um inimigo que está segurando um coquetel molotov e este cai no chão e incendeia o oponente, o problema é que na maioria das vezes o inimigo ”esquece” que está pegando fogo por alguns segundos e continua avançando até que cai e morre, o que deixa a impressão de ser algo simples que podia ter sido resolvido antes do lançamento.
Vale citar também, que a polêmica chuva que foi alvo de críticas na internet não atrapalha em nada na gameplay; o máximo é quando Leon geme de frio ou incômodo quando a chuva e o vento fustigam seu rosto, o que não interfere em nada e é um ótimo detalhe.
Jogabilidade e combate:
Muito se falou sobre o parry e o stealth revelados antes do lançamento de Resident Evil 4 Remake, diversos jogadores temiam que tais recursos servissem para zerar o jogo de modo não convencional ao que existe na franquia, desta feita, tornando a gameplay descaracterizada em relação a uma experiência de Resident Evil.
A grande surpresa na verdade, é o quanto essas duas mecânicas não anulam de forma alguma a experiência que se espera de um Resident Evil 4 Remake. Para começar, o parry é extremamente limitado pela durabilidade de faca e pela ação dos inimigos, sendo necessário acertar o tempo exato do ataque do inimigo para executar o parry, ser sábio o suficiente para não abusar do recurso e economizar a durabilidade faca para não ser penalizado depois tendo que gastar dinheiro para recuperá-la tantas vezes.
O stealth, além de ter a mesma implicação da faca, ainda sofre com o agravante de que é impossível concluir sequências inteiras de combate só com essa mecânica, claro que existem momentos onde é necessário, como o ‘tutorial’ na fábrica abandonada, porém, acaba servindo de modo geral apenas para eliminar inimigos mais isolados e economizar munição, mesmo que um pouco.
O combate é muito balanceado, como se fosse uma culminação das qualidades cultivadas ao longo dos jogos da franquia; Leon é mais rápido que em RE2 Remake, porém seus golpes não são tão poderosos como no RE4 original. Por exemplo: no original, um chute poderia derrubar ou atordoar um grupo inteiro de inimigos, já no remake os golpes são mais pesados e realistas, e se o jogador acertar um chute em um ganado próximo aos outros, no máximo vai apenas afastar um pouco um inimigo que esteja muito próximo.
É interessante notar que o hitbox de Resident Evil 4 Remake foi consideravelmente refinado em relação ao clássico, ou seja, não é possível explodir uma horda inteira de ganados com um explosivo que caiu relativamente longe destes, algo que era frequente no jogo clássico. Isso se aplica também à mira dos inimigos, que agora estão ainda mais precisos e não explodem seus companheiros com dinamite tanto quanto no original.
Falando dos inimigos, sobretudo os ganados, eles foram consideravelmente aprimorados nesse jogo: são capazes de desferir socos poderosos, desviar, agrupar e dispersar para cercar Leon por diferentes ângulos, além de agarrarem o jogador para dar tempo dos outros se aproximarem. Eles estão rápidos e ágeis, não como os licanos de Resident Evil Village, porém muito fortes, e o melhor de tudo é como ainda conservam similaridades na movimentação em relação ao original, alguns ficam caminhando devagar e correm do nada, já outros preferem atacar repetidas vezes de longe.
Inimigos mais ”pesados” como o Bruto (o ganado com cabeça de boi), Dr. Salvador, Bella Sisters e o Regenerator são muito tensos de enfrentar, destaque especial para os inimigos da motosserra que voltaram nesse remake com uma vasta gama de aprimoramentos, estão mais resistentes e conseguem aparar tiros de shotgun com a serra, e sim, o Regenerator está ainda mais assustador que o original e foi o único que inimigo que fez este que voz escreve correr para não ter que enfrentá-lo, mesmo tendo recursos para isso.
Os chefes desse jogo estão consideravelmente mais desafiadores, mesmo na dificuldade Padrão foi extremamente difícil combater alguns dos principais inimigos, destaque especialmente para Garrador, Ramón Salazar e Bitores Mendéz. O jogo induz o jogador muitas vezes a ficar confiante com o acúmulo de recursos e munição, dando a impressão de ser demasiado recompensador e generoso, contudo, logo o jogador é forçado em um trecho difícil com um desses chefes ou mesmo no segmento da luta na cabana por exemplo. Nesse sentido, RE4 Remake tem um fator recompensa muito mais balanceado que o de RE Village, que acaba muitas vezes fornecendo muitos recursos e esquecendo de ser devidamente punitivo com o jogador.
Com relação ao quesito das recompensas no jogo, toda a mecânica envolvendo o Mercador também está muito balanceada, o jogo oferece chances do jogador acumular muitas riquezas por meio de numerosas side quests, porém não acaba sendo uma experiência punitiva para o jogador que não gosta de fazer missões secundárias, mantendo boas chances do jogador se dar bem apenas com exploração, obtenção e combinação de tesouros.
Para finalizar sobre a jogabilidade, é preciso fazer considerações sobre os parceiros de Leon no jogo, Luis Serra e Ashley Graham! Luis está ainda mais útil que no original e existem mais trechos para se jogar lutando ao lado dele, inclusive o personagem pode salvar Leon do agarramento dos Ganados, jogar munição e atacar com chutes.
Sobre Ashley, ela está bem mais independente do que no original e seu trecho de gameplay está mais tenso e assustador, sendo consideravelmente reimaginado e melhorado em relação ao game clássico.
Dublagem, áudio e imersão:
Antes de iniciar sobre a dublagem, enfatizamos que jogamos Resident Evil 4 Remake dublado em Português do Brasil, por isso a crítica irá majoritariamente centrar-se nessa versão, porém faremos paralelos com a dublagem em Inglês para poder entender certos pontos. As escolhas e as performances entregues foram no geral muito bem acertadas. O Leon de Felipe Grinnan é excelente como já foi visto antes nas animações, contudo, o grande destaque da nossa experiência com Resident Evil 4 Remake foi a Ashley Graham de Michelle Giudice! A dublagem de Ashley ficou simplesmente perfeita e proporcionou uma quantidade de carisma e personalidade que expandiu muito mais o nível de conexão e envolvimento com a participação dela dentro do jogo.
Outras vozes como as de Hunnigan, Salazar, Bitores e Saddler estão muitíssimo bem colocadas e com o tom ideal, contudo é preciso fazer algumas ressalvas no que diz respeito a alguns personagens e suas versões dubladas em RE4 Remake: o tom da dublagem de Ada Wong (Paola Molinari PT-BR/ Lily Gao Eng) em Resident Evil 4 Remake, por exemplo, não ficou tão bem encaixado em relação à voz da personagem no jogo original, o mesmo pode-se dizer de Jack Krauser (Dláigelles Silva PT-BR/ Mike Kovac Eng) e Albert Wesker (Marco Antônio Abreu PT-BR/Craig Burnatowski Eng).
A voz de Ada ficou com um tom muito mais maduro, direto e menos ambíguo, não conservando a essência de uma espiã moralmente questionável e a aura de “femme fatale”. Ouvindo as vozes dos personagens em Inglês, foi possível constatar um tom semelhante na dublagem original, o que pode ter influenciado as escolhas para a voz brasileira, lembrando que os dubladores de todas as localizações do jogo fazem testes e são avaliados pela Capcom no que diz respeito ao tom e atuação, então essa escolha e mudança é direcionada pelos criadores do jogo e não pelos estúdios responsáveis pela dublagem.
As vozes de Krauser e Wesker no jogo também destoam um pouco da experiência original, isso vale para as versões em Inglês e Português, a voz de Krauser soa mais rascante e menos grave, já Wesker soa mais agressivo e não tão calculista, apático e indiferente como sua versão de RE4 clássico. Lembrando que esses apontamentos não são críticas ao trabalho dos dubladores enquanto profissionais, as atuações todas estão muito boas, só que estes casos pontuados acima não foram escolhas de entonação acertadas pela Capcom, em nossa opinião.
Saindo um pouco da dublagem, o áudio do jogo em termos gerais está excelente, desde sons de ambientes escuros e úmidos, onde ouve-se apenas gotas de água pingando no chão, até os gritos dos inimigos e suas vozes. Existem momentos particularmente tensos em locais abertos em que o jogador ouve os ganados gritando como se para atacar e perseguir, porém não dá para localizar a ameaça! Esse é um tipo de tensão muito boa que se constrói de forma oposta aos momentos claustrofóbicos, porém é igualmente efetiva e acerta bem no fator ‘isolamento’. O som dos tiros das armas também está impactante e bem eficiente!
As diferenças entre as vozes dos tipos de ganados continua muito bem definida nesse jogo, os aldeões soam bem agressivos, os cultistas tem uma entonação mais lenta que remete às preces do culto (isso inclusive gera momentos de ansiedade ao ouvirmos um cultista rezando e não vermos a origem do som) e os soldados da ilha parecem quase maníacos e ensandecidos.
História e conexões com outros jogos:
Como informado anteriormente, daqui em diante, a review adentrará em terreno de spoilers sobre história, personagens e conexões com a lore de Resident Evil, está feito então o alerta.
Talvez um dos pontos que a Capcom mais tenha enfrentado críticas dos fãs mais fervorosos em seus últimos títulos foi no tocante à história dos jogos. Isso foi observado em relação aos erros no sequenciamento dos cenários de Resident Evil 2 Remake, os cortes de conteúdo de RE3 Remake e a pressa de Resident Evil Village de resolver toda a história no ato final; felizmente, Resident Evil 4 Remake não conserva erros dessa natureza, muito pelo contrário, são feitas adições ao que já era conhecido do jogo original e até mesmo melhoras ao que foi feito no passado.
Algumas das alterações mais interessantes, inclusive, foi a revelação de que Luis Serra trabalhou para a Umbrella no passado, sendo um dos cientistas responsáveis pela criação de Nemesis. Essa adição é muito interessante, leva a pensar sobre muitas coisas, inclusive as razões de Luis para trabalhar com bioarmas, uma vez que um arquivo escondido dentro do jogo dá a entender que o avô de Luis morreu após ser infectado, presumivelmente pelo Las Plagas. É interessante notar que isso conecta perfeitamente com o que foi estabelecido pela Capcom no período posterior ao lançamento de RE3 Remake: a ideia de que o Parasita Nemesis Alpha é uma recriação artificial do Las Plagas.
As novas perspectivas adicionadas à lore também é algo que ocorre aqui desde a cena de abertura, especialmente oferecendo insights únicos sobre como o Los Illuminados interage com o mundo exterior, frequentemente utilizando os ganados para atacar e sacrificar alpinistas e policiais que passam pelas montanhas de Valdelobos. Resident Evil 4 Remake criou uma forma diferente de fazer com que o jogador tenha medo dos inimigos, mostrando a brutalidade e a insanidade que permeia aquela vila por meio de cada cenário.
Este é um ponto que já foi pincelado quando falou-se sobre ambientação, contudo, vale também enfatizar a importância dos ambientes para enriquecer a história do jogo, desde as cavernas que recontam parte da história medieval do culto Los Illuminados, como também arquivos no final do jogo e entalhes nas pedras que indicam que a família de Saddler mantém domínio sobre o povo da região por muitas gerações, adicionando lore que não existia no jogo original.
Algo que também foi bastante interessante nesse remake, como sugerimos antes ao falar da conexão entre Luis Serra e a Umbrella, foram as conexões feitas aos outros títulos da franquia; não falando apenas das menções óbvias e esperadas sobre Raccoon City, o jogo também trabalha em cima de eventos como a Operação Javier.
No jogo original, fica claro que Leon e Krauser já foram colegas de missão, porém, a história da Operação Javier foi contada apenas no rail-shooter Resident Evil: Darkside Chronicles, anos depois. A Capcom, nesse sentido, não fez mais que o seu dever de incluir um acontecimento importante da história que serve para detalhar ainda mais a dinâmica de Leon e Krauser. O que foi surpreendente, contudo, é que a Capcom parece ter reimaginado a história da operação neste jogo, dando a entender que houve perdas humanas no pelotão de Krauser, algo que não ocorre em Darkside Chronicles, já que ele e Leon vão sozinhos para a missão.
A reimaginação deste evento é factível pela perspectiva de que essa linha do tempo é alternativa, porém acaba se tornando mais uma questão não respondida pelo fato da Capcom ainda não ter se decidido sobre o cânone dos eventos dos remakes para as séries principais.
Outras conexões que sem dúvida são dignas de nota são aquelas observadas na cena pós créditos do jogo, na qual vemos o vilão Albert Wesker monitorando uma série de eventos e personagens, dentre os quais Excella Gionne e ainda Chris Redfield trajado com o uniforme visto em Resident Evil Revelations 1. A presença de Excella é o mais interessante de se observar, uma vez que isso pode ser um ‘teaser’ para um remake de Resident Evil 5.
Em termos gerais, a experiência com a história de Resident Evil 4 Remake deixa a impressão de que pode perfeitamente ficar no lugar daquela contada no jogo original, não só por recontar de forma melhor várias coisas, como também por ter reimaginado outras que ficaram muito boas; o último remake de Resident Evil que conseguiu surtir esse efeito entre os fãs foi o remake do primeiro jogo lançado em 2002, para efeito de comparação.
Personagens:
Para começar, é preciso falar sobre nosso protagonista, Leon S. Kennedy, antes de desenvolvermos mais acerca de seus aliados e inimigos.
A Capcom finalmente encontrou o tom certo para o personagem, e essa deve ser a melhor versão do Leon em muito tempo, pelo fato de que não só acertaram no humor seco do personagem (algo muito presente no jogo original) como também equilibraram isso com os traumas psicológicos, questões morais e aquilo que sempre vai caracterizar Leon: seus valores e senso de dever, não importa o quão traumatizado e cansado ele esteja.
As piadas de Leon e seu senso de humor estão no tom certo, e com certeza tudo fica ainda melhor na voz de Felipe Grinnan que entrega a melhor entonação para o personagem, seja quando está apático, agonizando, irritado ou feliz. A atuação de Grinnan adiciona uma quantidade incrível de nuances ao jeito de Leon, e a atuação de Nick Apostolides (dublador em Inglês) é tão incrível quanto!
A melhora em relação ao jogo clássico fica muito evidente quando observamos o relacionamento entre Leon e Ashley, a amizade que cresce entre eles, a preocupação e a gentileza que um alimenta pelo outro, além da determinação de Leon em salvá-la e provar que as coisas podem ser diferentes do sofrimento pela perda de vidas inocentes. Talvez a perda de pessoas seja aquilo que mais assombra Leon nos jogos que protagoniza: seu senso de salvar os inocentes é ao mesmo tempo sua maior virtude e sua maior fonte de agonia, uma vez que frequentemente ele é confrontado com a realidade de que nem sempre pode salvar a todos.
O crescimento da conduta de Leon é um aspecto muito enfatizado no jogo por meio das cenas entre Leon e Krauser, por meio destas, não só é possível ver a dicotomia esperada entre um soldado honrado e um soldado corrupto, como também foi feita uma reimaginação muito boa da relação entre Krauser e Leon. No jogo original, a dinâmica entre os dois era mais colocada como de dois colegas, e nesse remake, a relação deles foi concebida como algo entre mestre e pupilo.
A relação dos dois serve para estabelecer como as ações de Krauser serviram para o crescimento de Leon, seja por meio de seus ensinamentos, ou mesmo pela sua corrupção exibindo a representação daquilo que Leon nunca irá se tornar. Um toque de respeito e apelo emocional é dado quando Leon termina sua luta contra Krauser: mesmo estando diante de um antigo aliado que se corrompeu, Leon sabe que é necessário matá-lo pelo bem da missão e assim o faz, após Krauser demonstrar orgulho pelo soldado que ajudou a criar.
Enfatizando o que foi comentado sobre Krauser, todos os outros personagens que ajudam Leon na campanha tem um papel crucial para demonstrar e ampliar seu crescimento desde Raccoon City, isso pode ser comentando também a respeito de Ashley Graham.
É incrível como uma personagem que era tão detestada por uma boa parcela de fãs no jogo original tornou-se não só melhor nesse remake, como também mais fácil de se relacionar. Não, Ashley não luta com os inimigos e não participa do combate. O fato dela precisar se afastar, correr e se esconder, nada mais é do que pura fidelidade à sua condição naquele momento, e incrivelmente, mesmo para uma garota sem treinamento e que vive uma vida confortável, Ashley é cheia de atitude e iniciativa, além de estar bastante carismática. O remake fez justiça a essa personagem, não só colocando ela em situações limite, como também tornando seu papel muito útil inclusive para a sobrevivência de Leon no ato final.
E claro, falando dos personagens que auxiliam Leon em sua jornada, precisa-se falar de Luis Serra e Ada Wong, dois personagens absolutamente vitais para a a história. Começando por Luis, este personagem apresenta uma melhora considerável em relação ao título original, não só tendo suas motivações e participações expandidas, como também personalidade e carisma sendo igualmente ampliados.
A morte do personagem nesse jogo pelas mãos de Krauser se dá de uma forma trágica e justamente quando o jogo já deu tanto tempo de tela para Luis que o jogador que teve a experiência com o título clássico fica apreensivo aguardando o destino do personagem, junto também com uma vaga esperança de que ele sobreviva.
Falando de Ada, ela provavelmente foi uma das personagens que teve a participação menos reimaginada em relação ao que se viu no título de 2005, contudo, isso não quer dizer que a participação dela nesse jogo não seja muito boa, pois de fato é. Com algumas interações a mais por meio de comunicação por áudio, a dinâmica entre Leon e Ada ficou muito baseada na desconfiança e fantasmas da memória do ocorrido em Raccoon City, isso adiciona momentos muito bons de interações em que Leon demonstra desconfiança e ressentimento, enquanto Ada age de forma sarcástica.
Apesar da interpretação por voz de Ada não estar à altura do que foi visto no clássico, em termos gerais, a personalidade e as ações dela, inclusive salvando a vida de Leon mais de uma vez, são muito condizentes com o que se esperava e ficou excelente. É interessante observar também que Ada e Krauser não se encontram no remake, pelo menos não enquanto não sair o suposto e provável modo “Separate Ways”, o qual também pode abordar a conexão entre Krauser e Wesker, que não ficou estabelecida na campanha principal.
Para finalizar, comentaremos sobre os três principais inimigos do jogo e representantes do culto Los Illuminados, Bitores Méndez, Ramón Salazar e Osmund Saddler. Nesse jogo, além de estar com uma caracterização mais próxima de um líder religioso, Bitores parece mais fanático que no original: grande parte de suas falas são pregações religiosas sobre Las Plagas e Saddler, além de que ele parece ter sido o mais afetado psicologicamente pela lavagem cerebral promovida por Saddler.
Falando sobre o dono do Castelo Salazar, o papel de Ramón como um completo sádico fica muito mais evidente por meio de notas que mostram seu abuso para com seus subordinados e como ele manipulou a lealdade dos servos de sua família para violar seus corpos com o parasita, sendo inclusive a explicação dada para a origem do Verdugo, o servo mais fiel de Salazar.
Uma caracterização a mais é dada a esse vilão quando o jogo deixa implícito por meio de diálogos que Salazar é obcecado por teatro e dança, além de utilizar um mecanismo de projeção para tentar incutir em Leon a mesma dor que o causaram no passado, utilizando o delírio de grandeza causado pela mutação do Las Plagas para gritar como Leon é pequeno, patético e indesejado, provavelmente sugerindo que ele sofreu abusos psicológicos por meio desse tipo de insulto.
Para finalizar, comentando sobre o grande vilão do jogo, Osmund Saddler é um dos personagens que mais foi melhorado em relação ao que se tem no material original, não só por ele de fato parecer que acredita em todo o poder sagrado do Las Plagas, como também por ter ganhado um background mais consistente e interessante.
Como foi mencionado mais cedo nesta análise, a família Saddler existe há muitos anos na região, algo que não existe no jogo original, porém isso serve para adicionar uma sensação de pertencimento e conexão do vilão com a vila, o passado da mesma e o parasita e sua história. Em outras palavras, o remake conseguiu de fato tornar Saddler um personagem muito mais interessante e assustador que o do jogo original.
Conclusão:
Resident Evil 4 Remake acumula muitos acertos e qualidades, o jogo não só expande a história de origem, como também cria conexões interessantíssimas com outros jogos. A qualidade técnica é primorosa, a duração é longa para os padrões da franquia, porém não se torna algo cansativo, pois o jogo está sempre oferecendo novos estímulos para continuar, e sempre cativando por meio da beleza visual, a construção interessantíssima da narrativa e o ritmo mais do que bem acertado para o andamento da campanha.
Tudo nesse jogo é um show por si só, vale a pena para qualquer fã da franquia conferir e deleitar-se com essa obra! Esse jogo não tenta reproduzir o impacto do original no mundo gamer e reinventar uma metafórica roda, porém ele inaugura um novo patamar de qualidade para remakes na indústria e cria uma experiência de Resident Evil definitiva e necessária!
Novamente, o EvilHazard agradece à equipe da Capcom Brasil por ter cedido horas antes do lançamento do jogo o acesso antecipado, que possibilitou a confecção desta Análise.
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Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil