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EvilLibrary – Jason “Rambo”, herói do Penamistão em Resident Evil: Infinite Darkness, e os traumas de guerra

Alertas: Este texto contém alusões a temas muito sensíveis como traumas de guerra, tortura psicológica e suicídio. Também contém spoilers da série Resident Evil: Infinite Darkness.

Embora os protagonistas anunciados de Resident Evil: Infinite Darkness fossem Leon e Claire, o enredo da série girou em torno da Guerra Civil no Penamistão, da qual o protagonista é principalmente Jason, chamado de “herói do Penamistão”. O veterano de guerra, no entanto, está longe de se ver como um herói.

Desde o período de divulgação, tive a sensação de que Jason seria um personagem ambivalente dentro da história. Isso se confirmou na obra completa, e ele acabou até sendo o “chefão final” da série. A meu ver, no entanto, isso não o torna exatamente um vilão, mas também não exatamente um anti-herói. Embora isso não tenha sido explorado adequadamente no enredo, ele é na verdade um personagem bastante complexo que não é fácil de compreendermos com uma simples dicotomia entre bem e mal.

Este olhar já faz suspeitar que Jason não estava muito bem.

Jason sabe a verdade sobre o que aconteceu no Penamistão e só recebeu a honra de herói para que a imagem de seu superior, o então major-coronel Wilson, fosse promovida. Foi assim que Wilson alcançou o posto de Secretário Geral da Defesa, um dos cargos mais importantes e influentes do Estado Americano.

Junto dos outros Cães Ferozes (Mad Dogs), então, Jason foi obrigado a cumprir ordens secretas e ilegais de Wilson para que ele lhes fornecesse o inibidor do vírus com que haviam se infectado no Penamistão. E essa chantagem, junto das experiências traumáticas de guerra, foi mexendo com a sanidade de Jason e com suas convicções.

Neurose de guerra

Antes de analisar o particularmente o personagem, quero retomar um momento da trama em que ele não está presente, que é quando os milicianos do Penamistão penduraram os corpos dos soldados naquela grande mão com a intenção de incendiá-los.

Aquela cena me lembrou imediatamente do primeiro filme do Rambo, de 1982, quando ele rememora as torturas que sofreu como prisioneiro durante a Guerra do Vietnã. Ele se lembra de como foi tratado como uma espécie de atração pública, um prêmio para seus algozes, algo muito semelhante a o que é visto nessa cena de Infinite Darkness.

No entanto, a presença das temáticas de Rambo não pararam por aí. O próprio John Rambo e milhares de veteranos de guerra traumatizados da vida real estão presentes em Infinite Darkness na figura de Jason.

Apesar de ser lembrado principalmente pela ação, Rambo trata de um problema muito presente na sociedade estadunidense que são os veteranos de guerra traumatizados, sendo frequentemente destacados os da Segunda Guerra Mundial, da Guerra do Vietnã e das guerras no Oriente Médio: a chamada neurose de guerra, um tipo de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) muito comum a ex-combatentes.

Esses soldados retornam para casa, mas suas memórias traumáticas não são adequadamente processadas pelo cérebro. Suas mentes continuam presas ao conflito vivido, levando a diversos sintomas como pesadelos, depressão e imensa dificuldade de retomar suas vidas normais. Nos casos mais graves, a pessoa revive os momentos da guerra, tendo “surtos” e agindo com violência como se estivessem de volta ao front.

Nem todos esses soldados buscam ajuda, muitas vezes por não entenderem que o que eles estão enfrentando é de fato sério, além do não incomum abandono deles por parte das autoridades. E o agravamento dessa condição pode levar a estes “surtos”, mais raramente a comportamentos violentos e muito frequentemente ao suicídio.

É por isso que John Rambo tem aquele comportamento de guerrilheiro. Na cabeça dele, ele ainda está na guerra e não consegue sair dela. A meu ver, Jason sente exatamente a mesma coisa e é por isso que ele quer mostrar o que é medo e o que é terror ao mundo: porque ele mesmo não consegue se livrar daquilo.

Vamos pensar na trajetória pessoal de Jason: ele viu coisas horríveis no Penamistão. As armas biológicas foram somente uma delas; ele viu companheiros morrerem, pessoas inocentes serem mutiladas, uma bomba ser jogada em uma cidade para encobrir provas. E, quando retornou para casa, ele não só não obteve suporte emocional quanto sofreu tortura psicológica por meio das chantagens de Wilson.

Não à toa que, antes de Jason, todos os outros sobreviventes de seu esquadrão cometeram suicídio. De início, pensei que Wilson os tivesse mandado assassinar por queima de arquivo, mas, ao longo do desenrolar da história, me pareceu bem provável que eles tivessem mesmo puxado o próprio gatilho.

Assim, para Jason, ver cada um de seus amigos ir aos poucos decidindo tirar a própria vida foi mais um fator que contribuiu para que ele fosse, também, perdendo a própria sanidade.

Vi alguém dizer que não tinha conseguido compreender as motivações de Jason. Mas para mim elas eram bem claras. A questão é que não podemos tentar encontrar motivações racionais em um homem que já não consegue mais pensar racionalmente. Assim como o Rambo de 1982, Jason enlouqueceu na medida em que os traumas eram agravados pela tortura psicológica de Wilson. Para o ex-soldado, portanto, suas razões para virar um monstrão e sair literalmente tocando o terror faziam perfeito sentido.

“Eu vou mostrar o que é medo”

 

Outros traumas

Infinite Darkness traz, ainda, traumas ligados à guerra sofridos por não-combatentes.

Shen Mei também tem lembranças terríveis da guerra pela perda do irmão de forma brutal, ainda mais devido ao fato de estar presente no momento em que Wilson deu as ordens para explodir as evidências de seus malfeitos.

Outro caso que não posso deixar de mencionar é a do garoto Remotsu Ganape, que fez o desenho que chamou a atenção de Claire. Ele não consegue mais falar após o trauma. Não encontrei informações sobre o mutismo como sintoma de TEPT, mas me pareceu bem plausível. Também devemos notar que o menino está em uma cadeira de rodas, o que significa que após testemunhar os horrores do ataque viral, ele ainda sofreu as violências físicas da guerra, sendo privado da capacidade de andar.

Em outras palavras, Remotsu teve sua infância roubada pela guerra. A história do garotinho me deixou bastante triste e acho que cabe a reflexão de que isso não é mera ficção.

Os traumas de Jason podem não ter sido físicos como de outros personagens, mas os danos psicológicos que ele sofreu o tornam um personagem bastante interessante para Resident Evil. Os traumas de guerra mostrados em Infinite Darkness são o diferencial de sua narrativa e também sua grande oportunidade perdida. Este background é excelente e é uma pena que não tenha recebido a atenção que merecia.

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