O icônico Silent Hill 1 tem duas décadas de história, então relembraremos juntos neste texto o clássico de terror lançado originalmente para PlayStation, assim como seu “reimaginado” relançamento quase dez anos depois para Nintendo Wii, Silent Hill Shattered Memories, que reinterpretou e modificou muitas das premissas do jogo original. Então, vamos mergulhar no pesadelo de Silent Hill. Vamos lá!
Em 1999, o PlayStation era o líder incontestável do mercado de consoles, e nem mesmo a chegada do Dreamcast, abalou essa realidade. O principal motivo disso era a variedade da biblioteca de jogos do PS1, e uma das responsáveis foi a Konami, que vivia grande fase. Primeiro, entregando Castlevania: Symphony of the Night, em seguida trazendo a espionagem tática de volta aos video games com Metal Gear Solid, e depois trazendo o terror psicológico de Silent Hill.
Hoje pode não parecer, mas essa abertura foi marcante na época, sobretudo pela trilha densa composta por Akira Yamaoka. Embora tenha sido comparado a Resident Evil, Silent Hill foi um jogo mais focado em envolver psicologicamente o jogador e menos na ação. Diferente de RE, em que o jogador sabia onde estava, o que tinha que fazer e sua maior preocupação era sobreviver, em Silent Hill, o jogador começa “perdido”, sabendo apenas que o protagonista, Harry Mason, sofreu um acidente de carro e sua filha está desaparecida. Silent Hill é apresentado como um lugar sinistro, vazio e desde o início hostil ao jogador, mas ao mesmo tempo sem revelar o porquê de tudo.
Personagens, como a policial Cybil Bennett, são apresentados aos poucos, e sempre de uma forma reticente, como se estivessem escondendo algo do jogador. Assim, além de lutar para permanecer vivo, o jogador vai desenrolando uma trama com toques sobrenaturais e com viradas de impacto. Se Resident Evil era o inferno, Silent Hill era um pesadelo.
Ainda comparando com Resident Evil, Silent Hill tem uma mecânica de jogo menos rígida, com movimentação livre em cenários tridimensionais e a adição de uma lanterna e um rádio, que emite ruídos que alertam o jogador da aproximação de monstros. Os controles requerem um pouco de tempo para se acostumar, alguns comandos requerem um tempinho para responder, mas a limitação até que faz sentido, pois Harry Mason é apenas um escritor, não um militar treinado como os de Resident Evil. Então o jogador tem que evitar confrontos sempre que possível, até porque munição e items de cura não são abundantes.
Consequentemente, a tensão é constante, sobretudo porque o jogador tem seu raio de visão sempre limitado pela constante névoa presente em Silent Hill. Essa foi uma jogada inteligente por parte dos desenvolvedores da Konami, pois cientes de que o PlayStation era limitado, desenharam o jogo de forma a usar essa limitação a seu favor, ao contrário de outros jogos. Por outro lado, a Konami extraiu o que pode do PS1, com cenários mórbidos, aterradores e uso de bom efeito de luz nos ambientes mais escuros. O som é um grande destaque do jogo, com efeitos sonoros perturbadores e trilhas de terror que mantém o jogador sempre em suspense.
Resumindo, Silent Hill é um clássico de PlayStation que merece ser revisitado. Perturbador, intenso, sombrio. A jornada de Harry Mason é um terror do início ao fim.
Quase dez anos depois, já em 2009, a Konami resolveu reimaginar seu clássico e lançou Silent Hill: Shattered Memories. Produzido pelo estúdio Climax, Shattered Memories empresta alguns conceitos básicos do jogo anterior e entrega uma experiência diferente da de 1999. A começar que o jogo é mais focado no aspecto psicológico, a ponto de fazer o jogador responder questionários como se estivesse em uma terapia. As respostas modificam vários aspectos do jogo, desde a roupa dos personagens, a forma como eles interagem com o jogador e até aspectos gráficos menos relevantes. Exceto por algumas passagens, o sobrenatural foi muito diminuído em relação ao jogo original, assim como a trama foi simplificada.
A estrutura de jogo também foi modificada, se dividindo em duas seções. Em uma, o jogador explora em busca de pistas e resolvendo quebra-cabeças, estes normalmente simples e que utilizam o sensor de movimento do Wiimote. Na outra, o jogador é envolvido em uma espécie de “pesadelo de gelo”, sendo obrigado a correr pela vida, fugindo de monstros. E foi exatamente nessa parte que Shattered Memories dividiu opiniões quando foi lançado. Primeiro, porque diferente do original, aqui não há combate, o jogador pode apenas fugir, se esconder, ou tentar atrasar os monstros derrubando algum objeto. Caso fosse pego, o jogador tinha que chacoalhar o controle para se debater e se livrar dos monstros, e embora o wiimote tenha sido bem implementado, as vezes falhava e frustrava o jogador. Outro ponto de discordia é que essas seções sempre funcionavam do mesmo jeito, mudando apenas a distância a ser percorrida, criando repetitividade. Além disso, como esses momentos eram bem delimitados, o jogador percebia que não haveria qualquer ameaça durante as partes de exploração, o que tira um pouco da tensão do jogo.
Mas Shattered Memories também tem seus pontos altos. Os gráficos e a ambientação são muito bem feitos, com bons efeitos de luz, sombra e partículas. Além de ser usado para manejar a lanterna, o Wiimote tem alguns usos interessantes através do celular que Harry Mason usa durante o jogo, como receber mensagens de alguns NPCs e tirar fotos assustadoras que revelam acontecimentos passados. Embora tenha uma campanha curta, Shattered Memories tenta compensar isso tendo vários finais. Apesar de ter sido um jogo que tenha divido opiniões quando foi lançado, também creio que seja um jogo que valha a pena revisitar, até para notar as diferenças com o jogo de Playstation ao qual Shattered foi inspirado.
É isso amigos, Silent Hill vale ser rejogado não apenas por alcançado essa marca, mas porque é um jogo que embora tenha envelhecido em vários aspectos, por assim dizer, ainda tem uma certa dignidade. Também é um dos grandes jogos do PlayStation, sendo presença garantida em qualquer lista de melhores que se preze. Shattered Memories, por sua vez, também é um bom título de Wii, que mostrou o que o console podia fazer quando era levado a sério.
Quanto a franquia, pena apenas que após a excelente continuação, Silent Hill 2, ela foi ladeira abaixo e tenha sido posteriormente abandonada pela Konami. Que pena.
Paulista de Taubaté, Designer Gráfico, Designer de Games, quality assurance tester, tradutor de Inglês e Francês e dono do blog e canal Loading Time.