Dentre as grandes mentes do terror, muitos artistas se destacaram principalmente no campo do cinema e da literatura, porém, com certeza aquele que atingiu ressonante sucesso nos dois campos foi o grande Stephen King. Frequentemente, esse autor é compreendido como uma das três grandes mentes revolucionárias do terror na literatura, ao lado de Edgar Allan Poe e HP Lovecraft, escritores dos quais Stephen King drena grande inspiração. Não somente isso, King também consegue a proeza de ser um dos escritores mais adaptados para o cinema da história, com mais de 70 livros de sua autoria sendo adaptados para as grandes telas.
Baseado nesse impressionante histórico, neste artigo vamos mergulhar um pouco na vida e obra de Stephen King, além de abordar alguns de seus livros de maior sucesso, filmes baseados em seus livros e alguns de seus personagens mais interessantes e assustadores!
Stephen Edwin King nasceu nos Estados Unidos em 1947, na cidade de Portland no estado do Maine, sendo o segundo filho de Donald e Nellie King. A infância do autor foi marcada por dificuldades: o pai de Stephen abandonou a família quando o filho tinha apenas dois anos de idade e nunca mais foi visto, e a ausência de Donald King fez com que a família entrasse numa crise financeira muito intensa, fazendo com que Nellie e os filhos tivessem que viver de favor na casa de parentes.
Quando tinha quatro anos , o pequeno Stephen estava brincando com um amigo perto de uma ferrovia quando o outro menino foi atropelado por um trem; o evento fez com que Stephen voltasse para casa ”pálido como um fantasma” e aparentemente seu cérebro bloqueou essa memória, uma vez que ele não lembrava do incidente, porém sua família sempre contava que isso aconteceu de fato.
Aos seis anos, ele começou a desenvolver um apreço por fantasia e ficção quando achou uma caixa de livros relacionados a esses temas que foi deixada por seu pai; na época, ele também se interessava por filmes de monstros e ficção. Durante a infância e adolescência, ele já escrevia pequenos contos e histórias de ficção e chegou mesmo a tentar vender alguns deles aos doze anos de idade, porém só conseguiu publicar seu primeiro conto aos 18 anos de idade, uma vez que durante o ensino médio, ele escrevia e publicava no jornal da escola.
Como jovem adulto, Stephen King conseguiu entrar para o curso de inglês da Universidade do Maine, no qual conseguiu aprimorar e explorar sua vocação para a escrita, tendo uma coluna também no jornal da faculdade. Após se formar como Bacharel em 1970, ele casou-se com Tabitha Spruce em 1971 e passou a procurar empregos como professor de Inglês, entretanto, a dificuldade de Stephen de conseguir emprego na área fez com que o casal tivesse de viver com as economias de Stephen e o empréstimo estudantil de Tabitha, além de bicos como zelador que Stephen conseguia ocasionalmente e vendas de pequenas histórias para revistas.
As marés começaram a mudar com o lançamento do livro ”Carrie” em 1974, uma das obras mais populares de Stephen King e o seu primeiro grande sucesso, dando projeção e renome ao autor. O livro contava a história da protagonista homônima, Carrie White, uma garota discriminada na escola que possuía estranhos poderes telecinéticos. Não demorou muito até que o filme fosse adaptado para o cinema e lançado em 1976, com a direção de Brian De Palma e Sissy Spacek como Carrie, eternizando na história do cinema e no imaginário do público a cena da formatura com o balde de sangue de porco caindo sobre a protagonista.
O filme foi um grande sucesso, faturando 33,8 milhões de dólares para um longa com orçamento de 1.8 milhões de dólares. Após isso, King conseguiu engrenar outros sucessos da literatura para a televisão, como por exemplo seu livro ”A Hora do Vampiro” que foi adaptado para uma minissérie de TV em 1979, dirigida pelo lendário Tobe Hooper, diretor de ”O Massacre da Serra Elétrica” (1974).
Foi no ano de 1980, entretanto, que uma das mais brilhantes adaptações de uma obra de King foi lançada para o cinema, o filme ”O Iluminado”, dirigido por Stanley Kubrick e baseado no livro de mesmo nome lançado em 1977. A obra conta a história de Jack Torrance e sua família, que está financeiramente quebrada; eles estão se mudando para passar o inverno em um Hotel no Colorado chamado de Overlook, para que Jack possa trabalhar como zelador pela temporada. Contudo, o hotel é palco de acontecimentos sobrenaturais que acabam lentamente jogando Jack Torrance, o patriarca, de volta ao seu vício em álcool, e consequentemente, em uma espiral de insanidade e violência contra sua esposa Wendy e seu filho Danny, que é atormentado por visões dos espíritos do hotel.
Uma das grandes controvérsias dessa adaptação, é que por mais que o resumo acima esteja fidedigno tanto ao filme quanto ao livro, há diversas diferenças no modo como alguns personagens e eventos são retratados, algo que desagradou Stephen King profundamente, fazendo com que não seja mistério para ninguém que o autor detestou o trabalho de Kubrick com sua obra e se sentiu majoritariamente ignorado durante a produção do filme.
Um fato curioso é que Stephen King se dispôs a dirigir uma nova adaptação de ”O Iluminado” em 1997 dessa vez no formato de uma minissérie para TV com 3 capítulos, porém a produção terminou caindo no nicho de adaptações obscuras do autor, por ser uma obra pouco conhecida e muito criticada pela qualidade de seus efeitos especiais, atuações e estrutura de narrativa.
O Iluminado também recebeu uma sequência nos cinemas em 2019, baseado no livro de King “Doutor Sono” de 2014, dessa vez, a história acompanha o filho de Jack e Wendy, Danny Torrance (Ewan McGregor), agora crescido porém ainda atormentado pelos traumas causados pelos incidentes no hotel Overlook e as terríveis visões causadas pelo seu dom de enxergar além do mundo dos vivos.
Um fato interessante a se acrescentar sobre as visões de Danny Torrance é que elas estão relacionadas a um dom psíquico dentro do universo de Stephen King que é compartilhado por vários personagens, a ”iluminação”, o mesmo dom que personagens como Carrie White, John Coffey, Dick Halloran e Abra Stone possuem, porém cada um desses personagens vai manifestar poderes diferentes e em intensidades distintas.
Em 1987, King escreveu um de seus maiores, e talvez, seu mais importante e reconhecido livro: It, a Coisa. O livro conta a história de um grupo de pré-adolescentes que está sendo atormentado por uma entidade maligna que toma forma de um palhaço assassino que se alimenta de pessoas. O livro trata de questões pesadas como bullying e abusos de diversos tipos, inclusive isso é algo muito reconhecível nas obras de King: o foco intenso em criar terror a partir de situações e dificuldades humanas, e claro, trabalhando um escopo sobrenatural maior circundando essas narrativas.
It foi adaptado para a TV como uma minissérie em 1990, com direção de Tommy Lee Wallace e Tim Curry interpretando o perverso palhaço Pennywise. A minissérie foi um sucesso e ficou conhecida como uma das obras que mais consolidou o medo de palhaços no imaginário das crianças e jovens, com o visual de Pennywise se tornando icônico entre os principais monstros e assassinos do gênero do terror.
It foi adaptado mais uma vez para os cinemas em dois filmes diferentes, lançados respectivamente em 2017 e 2019, ambos fazendo ressonante sucesso e consolidando dessa vez a imagem de Bill Skarsgård como Pennywise da nova geração, atingindo grande popularidade com o público jovem.
É uma obviedade constatar que esses livros e adaptações citados são apenas algumas das obras relacionadas a Stephen King (como nos esquecermos, por exemplo, de “O Cemitério”, outra grande obra do escritor e que também virou filme?), porém, como foi dito antes, é possível ver nelas alguns dos padrões nas obras desse autor, que lida tão bem com questões humanas como vícios, problemas familiares e financeiros, abusos e violência.
Além disso, ele consegue adicionar nessas histórias. já muito tristes por si só, o elemento do sobrenatural e do desconhecido que infesta as vidas e as mentes dos personagens de medos, dúvidas e pavores existenciais mediante a serem confrontados com uma realidade de seres transcendentais, monstros e poderes psíquicos que se voltam contra seus portadores. Tudo isso relegando os personagens a mais profunda e certeira condição de precariedade, incerteza e horror mediante a um oceano do desconhecido, e é nisso que reside o brilhantismo da escrita de King! Vida longa ao rei!
Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil