Em 2022, uma nova tentativa de adaptar os jogos de Resident Evil para uma série live-action foi feita pela Netflix, mas não obteve o sucesso que os fãs esperavam, e não só: a produção foi cancelada logo após sua estreia devido à sua recepção negativa. Como resultado, aparentemente continua sendo uma tarefa difícil para a popular saga da Capcom encontrar o formato adequado para ser adaptado à mídia além dos videogames, dificuldade esta que se evidenciou com a aclamada estreia da série de TV de The Last of Us.
O universo de Resident Evil também foi transferido para outros formatos, como animações e até um mangá, mas nenhum deles conseguiu refletir as ideias originais da saga na mesma medida que a franquia de videogames. Quem conseguiu, no entanto, foi uma escritora chamada Stephani Danelle Perry, ou S.D. Perry. Ela publicou sete títulos cobrindo a trilogia original, Resident Evil Zero, CODE Veronica e alguns livros que são histórias originais. Nessas obras, a escritora consegue captar o que os jogos originais do PlayStation transmitiam aos gamers no final dos anos 1990/começo dos anos 2000, ao mesmo tempo em que coloca certas diferenças em relação ao que se via nos videogames.
A história por trás dos livros de Resident Evil
No final dos anos 90, quando a Capcom lançou Resident Evil pela primeira vez como uma saga de terror de videogame de sucesso, a Pocket Books, uma divisão da Simon & Schuster, adquiriu os direitos de publicar romances sob o nome de Resident Evil. O plano original da editora era entregar o projeto a Steve Perry, conhecido por sua série de livros “Matador”, bem como por colaborar em vários livros de Star Wars, Alien e Conan mas no final, ele recomendou sua filha, Stephani Danelle Perry, mais conhecido como S.D. Perry, para escrever os livros.
O primeiro livro desta série se chama The Umbrella Conspiracy, que é uma adaptação do primeiro game publicado no final de 1998, enquanto o segundo é uma história original da autora, intitulada “Caliban Cove”, estrelando os personagens do primeiro jogo. O terceiro livro é é City of the Dead, uma adaptação de Resident Evil 2, e o quarto é “Underworld”, outra história original de S.D. Perry. O quinto e o sexto são “Nemesis” e “Code Veronica”, baseados nos jogos de mesmo nome, e o último desses romances é Resident Evil Zero, que adapta o game prequel de toda a saga e que foi publicado em 2004.
Embora ela tivesse os direitos dos videogames, S.D. Perry não teve acesso a nenhum material adicional ou notas de desenvolvedor da Capcom. Para compensar isso, S.D. Perry usou os manuais do jogo como inspiração ao lado de Resident Evil: The Book, que é um prequel do jogo original escrito por Hiroyuki Ariga.
Como S.D. Perry deu continuidade a Resident Evil
Em sua obra, S.D. Perry aproveita para tentar alcançar algo que a saga não teve no início: continuidade. Em particular, os primeiros jogos não se caracterizavam por desenvolver uma história ao longo de suas parcelas, mas eram diferentes enredos ambientados no mesmo mundo. Perry buscou compensar isso, e ela tentou unir a trama dos primeiros jogos através da figura de Trent, um personagem misterioso com ligações pouco claras com a Umbrella Corporation de Resident Evil, que ajuda os protagonistas de uma forma ou de outra ao longo de toda a história dos livros.
É aqui que os romances de S.D. Perry mais brilham, pois ela consegue manter todos os momentos importantes de cada trama ao mesmo tempo em que torna a história muito mais coerente. Além disso, isso permitiu adicionar muitos fillers aos romances, que fornecem mais contexto aos eventos e enriquecem ainda mais a história de seus personagens, como por que Jill se juntou aos S.T.A.R.S. em Raccoon City. Os livros também explicam as suspeitas que Chris já tinha de que algo estranho estava acontecendo com a Umbrella antes do primeiro jogo, a obsessão compulsiva de Albert Wesker em ser um profissional sempre no controle, ou o quão perturbado era o chefe de polícia Brian Irons, por exemplo.
Claro que isso não é perfeito, pois esses livros começaram a ser publicados após o lançamento de Resident Evil 2, então, a certa altura, eles foram escritos paralelamente aos jogos e sem nenhum suporte da Capcom. Isso é especialmente perceptível entre Resident Evil 2 e Resident Evil 3 , já que a autora assumiu no início que Jill Valentine deixou Raccoon City com o resto do grupo dos S.T.A.R.S. antes dos eventos do segundo jogo. Ao fazer o livro baseado no terceiro jogo, onde Jill é a personagem principal, Perry não teve escolha a não ser acrescentar uma nota explicando que esse era um erro impossível de evitar.
Os livros de Perry adicionaram personagens mais detalhados e novos monstros a Resident Evil
Apesar desses detalhes, a trama de S.D. Perry traz mais detalhes aos personagens e dá a eles uma personalidade que não existia nos jogos. A escritora consegue adaptar a ideia de survival horror dos games para as novels de forma magistral, enriquecendo com muitos fatos marcantes o enredo dos games, mas preservando a base da história em todos os momentos, como se os livros fossem complementos do universo dos jogos. Os romances também incluem muitos monstros adicionais não vistos na série de jogos, como Hunters invisíveis e bio-armas humanoides treinadas.
Como já mencionado, Perry escreveu essas histórias ao mesmo tempo que os primeiros jogos foram lançados, antes da saga se voltar mais para a ação começando com Resident Evil 4, e antes dos filmes de Milla Jovovich que mudaram completamente a ideia de Resident Evil. Outro ponto que diferencia os livros de jogos como Resident Evil 5 e Resident Evil 6 é que a ação é substituída por altas doses de terror. Ao invés de cenas incríveis com confrontos incríveis, as novelas exploram os medos mais primitivos do ser humano com uma atmosfera sombria e paralisante.
Em 2013, a editora Benvirá adquiriu os direitos de publicação no Brasil dos livros de Resident Evil escritos pela escritora S. D. Perry; todos os sete volumes ganharam capas diferentes e se encontram à venda nas melhores livrarias do país.
Adaptado de GameRant
Curitibano que aproveita o clima frio para tomar café e jogar bons jogos, e em alguns momentos de reflexão tenta explicar para si mesmo a diferença de remaster e remake nos dias de hoje. Jogos prediletos: Hollow Knight, The Witcher 3 e Super Metroid.