A imensa maioria dos fãs ou apreciadores do gênero do terror com certeza já assistiu ‘O Exorcista’ (1973) e sem dúvida uma boa parcela dos que já assistiram consideram esse como um dos maiores ou o maior filme de terror já feito. Esse filme não é simplesmente uma obra de terror, ele foi um marco na sociedade na época de seu lançamento, criou o subgênero do exorcismo no terror e influenciou incontáveis outras obras de muitas maneiras.
Por isso, é natural que qualquer pessoa que assistiu O Exorcista e consumiu os filmes de terror com assombrações e possessão mais recentes da indústria tenham o clássico de 1973 como uma referência de qualidade, e ao mesmo tempo, uma obra com de impacto inalcançável. Naturalmente, o anúncio de uma sequência dessa obra tende a ser recebido com um tanto de desdém por parte do público, e infelizmente as previsões não parecem positivas, levando em conta os rumores que saíram sobre exibições teste do filme.
No artigo de hoje, discutiremos o que esperar do novo filme ”O Exorcista: O Devoto” não só com base em informações reveladas pelos produtores e os trailers, mas também com base nos rumores de exibições teste do filme e ainda levando em conta o histórico da Blumhouse com sequências de filmes clássicos.
Abaixo, confira o trailer do longa. “O Exorcista: O Devoto” estreia nos cinemas dos Estados Unidos no dia 6 de outubro de 2023. No Brasil, o longa chega em 12 de outubro de 2023.
De modo natural e por uma pletora de motivos, é possível cravar que esse filme não vai reproduzir o sucesso e o impacto que o primeiro causou. O primeiro filme de ”O Exorcista” saiu em um momento que o imaginário popular não estava supersaturado como nos dias de hoje com clichês e imagens de filmes de exorcismo que tentaram imitar o impacto do clássico de 1973. Além disso, as pessoas estavam mais sensíveis a temas delicados na época como medo do demônio, fé e temas afins; um filme com uma garota inocente sendo possuída e induzida aos atos mais impuros e hediondos era algo extremamente assustador e uma completa novidade.
A saturação do subgênero de exorcismo de certo modo também cria um terreno infértil para novas ideias; é muito difícil inovar em filmes de possessão demoníaca nos dias atuais, o público já está acostumados com contorcionismo, objetos e pessoas voando, vômito e blasfêmias. Entretanto, o diretor de “O Exorcista: O Devoto”, David Gordon Green, confirmou em entrevistas que há um conceito diferente de possessão sendo explorado, ideia essa que já foi divulgada nos trailers como uma espécie de ”dupla possessão”.
“O conceito deste filme é que um dia duas meninas desaparecem depois da escola. Quando elas retornam, estão em um estado mental diferente e exibindo alguns atributos peculiares. Descobrimos em seguida que elas estão em uma espécie de possessão sincronizada” declarou Green em entrevista ao Entertaiment Weekly.
Além dessa nova ideia de duas pessoas personagens possuídas, o filme também vai dar uma abordagem diferente ao exorcismo através da personagem do primeiro filme da franquia, a mãe de Regan, Chris Macneil (Ellen Burstyn). O filme vai trazer Chris de volta estabelecendo que ela se tornou obcecada com estudos sobre exorcismos depois da possessão de sua filha. A implicação disso é que o exorcismo não será abordado apenas pela perspectiva católica como é de praxe nos filmes do gênero, e sim, visto pela ótica de outras culturas que Chris estudou. Essa informação confirmada por David Gordon Green também em entrevista ao Entertainment Weekly:
“Sua personagem acabou ficando fascinada pelo exorcismo e estudando os ritos e rituais de possessão em toda a cultura. [Ela] se tornou uma espécie de especialista. Ela mesma não é uma exorcista, mas é conhecida pelos livros que escreveu.”
Apesar de já ser confirmado que Chris estará de volta e que vai ajudar com o exorcismo, ainda não se sabe se Linda Blair reprisará seu papel como Regan, mesmo ela já tendo sido mencionada nos trailers e tendo aparecido em fotografias. Essa característica de trazer personagens legado é algo que virou tendência no terror nos últimos anos, e um grande exemplo disso são filmes da série “Halloween” da Blumhouse, também dirigidos por David Gordon Green, que trouxeram de volta praticamente todos os atores do primeiro filme, incluindo os que tinham papéis de figuração.
Apesar disso, um personagem do filme “O Exorcista” original que foi confirmado não estar de volta é o vilão, o demônio Pazuzu. De acordo com David Gordon Green em entrevista ao IGN, o grande inimigo do padre Merrin não fará seu retorno na sequência e dará lugar a um novo demônio:
”Estamos usando um novo demônio, não Pazuzu. É um demônio que aqueles que estudam demonologia talvez conheçam”.
Pazuzu foi baseado em um demônio assírio-babilônico de mesmo nome que tinha sua imagem utilizada em amuletos de proteção contra outros demônios. Ele representava os ventos destrutivos do sudoeste. Apesar da imagem de Pazuzu ter se tornado icônica na cultura pop por causa de O Exorcista, seu papel enquanto vilão pode ser preenchido por um outro demônio sem prejudicar muito a essência da coisa, já que na maior parte do tempo, ele se portava de acordo com os demônios sob a ótica judaico-cristã, e não tanto quanto sua contraparte assíria.
Apesar do filme aparentemente flertar com novos conceitos dentro do subgênero da possessão demoníaca, rumores de exibições teste dão conta de que o filme não aproveita bem seus elos com o original e que não foi bem recebido pelo público que assistiu, o que ajuda a concretizar o desânimo e o pessimismo em torno dessa sequência, que a propósito, já foi confirmada como parte de uma nova trilogia.
O que resta aos fãs do filme original e ao novo público é aguardar que o filme seja lançado para que tirem as próprias conclusões, porém, é preciso ir aos cinemas sabendo que o filme original é uma obra clássica irretocável e muito a frente de seu tempo, por isso, ele está em outro patamar. Isso é algo que os próprios produtores e o público devem ter em mente. ”O Exorcista: O Devoto” não precisa reinventar a metafórica roda, apenas fazer o melhor uso possível de seus elementos novos e tentar entregar uma experiência não tão enfadonha e saturada de clichês como tem sido os recentes filmes do universo de ”Invocação do Mal” por exemplo.
Antes de finalizar nosso artigo, deixamos aqui nossa homenagem em memória do diretor de ”O Exorcista” de 1973, William Friedkin. Infelizmente, o cineasta faleceu no último dia 7 de agosto aos 87 anos após complicações de um quadro de pneumonia e insuficiência cardíaca. Friedkin foi um dos grandes expoentes de sua época, e sem dúvida, sempre será lembrado com carinho como o diretor do maior, mais importante e mais influente filme de terror da história.
Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil
