Com a chegada de Evil Dead Rise aos cinemas, torna-se impossível não recordar saudosamente dos títulos mais antigos da franquia Evil Dead e de todas as suas características que até hoje mantém Evil Dead no patamar de uma das marcas mais respeitadas e celebradas do gênero do terror! Diante disso, convidamos o caro leitor a nos acompanhar em uma breve jornada comentando um pouco sobre cada um dos quatro filmes principais que antecedem Evil Dead Rise!
Em primeiro lugar, é preciso enfatizar que a franquia Evil Dead não possui uma continuidade fixa até Evil Dead Rise. Por exemplo: a história do herói Ash Williams é contada em Evil Dead 1, Evil Dead 2 e Army of Darkness, além de ser continuada na série de TV de três temporadas, Ash Vs Evil Dead. Já o quarto filme da franquia não atua como uma sequência para a história de Ash; ao invés disso, ele entra na onda de Remakes e cria uma história nova com a personagem Mia como protagonista, porém com fortes inspirações no primeiro e segundo filme. O filme Evil Dead Rise, ao que tudo indica, também segue a mesma lógica do filme anterior, criando uma história completamente nova em que uma mãe e sua família tornam-se alvos das maldades contidas no grimório Necronomicon.
O Necronomicon em si é o ponto central de todos os filmes e da série, sendo a fonte de todos os males quando suas páginas profanas são lidas, contudo, antes que o primeiro filme de Evil Dead fosse realizado, um filme protótipo com a premissa básica da franquia foi produzido e este não possuía o Necronomicon.
Within the Woods (1978) foi um curta produzido pelo grande idealizador da franquia, Sam Raimi, por Bruce Campbell (o ator que viria a interpretar o herói Ash Williams) e Rob Tapert, todos eles colegas de faculdade que estavam desejando ingressar no ramo do cinema. A premissa de Within the Woods unia os preceitos basais para o primeiro filme e, consequentemente, para o segundo filmes e o remake de 2013: ele deveria ter forças sobrenaturais, uma cabana na floresta e quantidades elevadas de sangue e gore.
Ao contrário do primeiro Evil Dead, no entanto, em Within the Woods a ameaça sobrenatural era oriunda de um cemitério nativo americano que estava próximo ao local da cabana, não se valendo da presença do Necronomicon e do demônio Kandariano, apesar da inspiração de Sam Raimi ser a literatura de H.P Lovecraft e seu Necronomicon para criação dessas ameaças desde Within The Woods.
A ideia de Within The Woods era atrair a atenção de investidores para a criação do primeiro Evil Dead, e de fato os jovens Sam Raimi, Bruce Campbell e Rob Tapert lograram êxito em atrair alguns investimentos e fundos para rodar seu projeto. O baixo orçamento foi uma característica marcante não só de Within The Woods como do primeiro Evil Dead: a equipe aproveitou-se da premissa da cabana isolada para amenizar custos de produção e investir mais pesadamente nos efeitos práticos e gore, que são uma das grandes qualidades dos filmes da franquia até hoje.
A trama de Evil Dead era bem simples: o jovem Ash Williams, sua namorada, irmã e amigos iriam passar o fim de semana em uma cabana isolada na floresta, porém tudo mudou após os jovens descobrirem um antigo grimório junto com uma fita de gravação do professor que o descobriu nas ruínas de um castelo antigo. Quando o feitiço foi reproduzido por áudio, um demônio foi invocado e passou a possuir os jovens um por um, deixando apenas Ash vivo no final após ser forçado a destruir seus amigos. Nesse filme, Ash é totalmente o oposto do que se espera de um herói de filmes: ele é medroso, quieto e o tempo todo acaba evitando o conflito direto com o mal até o ponto em que não se pode mais correr, apenas sobreviver.
A parte mais desafiadora de se rodar esses filmes sem dúvida foi a quantidade de obstáculos gerados pelo orçamento limitado, ou seja, os atores também precisavam se revezar para auxiliar com a produção e a preparação dos efeitos práticos, além de inúmeros incidentes que ocorreram nas filmagens, pois frequentemente caçadores passavam pelo local das gravações e atrapalhavam as mesmas, além da cabana (cedida por Bruce Campbell por ser de sua família) não possuir encanamento e impossibilitar que as pessoas utilizassem chuveiros. O frio extremo por vezes congelava os equipamentos eletrônicos, fazendo com que uma câmera, por exemplo, tivesse que ser colocada junto ao fogo para descongelar, além dos próprios atores adoecerem frequentemente. Um dos mais afetados fisicamente pelo filme foi Bruce Campbell: o único que ficou até o fim das filmagens, ele chegou a torcer o tornozelo correndo e foi acertado com uma câmera no rosto.
Depois de tantos percalços e praticamente todos os atores terem deixado o local das filmagens por não aguentarem as condições do ambiente, o filme finalmente ficou pronto e foi lançado aos cinemas em 15 de abril de 1981, imediatamente chamando atenção por seu marketing totalmente enfático com a proposta violenta do filme e a própria violência entregue ao público na tela de cinema.
O impacto causado pelo primeiro filme praticamente demandava que a história fosse continuada, o que fez com que os primeiros esboços para uma nova aventura de Ash Williams fossem iniciados. A ideia inicial para Evil Dead 2 era que Ash seria puxado por um portal dimensional e iria parar na Idade Média, enfrentando Deadites que atacavam o Castelo Kandar, contudo, os investidores que iriam possibilitar que o filme ocorresse não aprovaram a ideia, preferindo que o segundo filme fosse mais parecido com o primeiro, algo que Sam Raimi levou de forma quase que literal.
Evil Dead II não é apenas uma sequência no sentido próprio da coisa, ele bem no início faz uma recapitulação do primeiro filme e termina sendo quase um remake do mesmo, não ignorando totalmente os eventos ocorridos nele, porém focando mais em Ash e sua namorada que vira um Deadite. Depois dessa recapitulação, o filme de fato começa com Ash sendo forçado de volta à cabana após ser acuado pela presença do demônio kandariano invocado pelo Necronomicon; é preciso mencionar que um dos pontos mais positivos de Evil Dead 2 é como ele tem sucesso em expandir e melhorar aspectos do filme original, ele abraça ainda mais o exagero e o terror comédia, além de Ash ir enlouquecendo cada vez mais ao longo do filme ao ponto de se tornar praticamente um herói combatendo o mal dentro da cabana com sua espingarda e uma motosserra no lugar da mão.
Esse filme é cheio de cenas icônicas, frases engraçadas, efeitos ainda melhores que o primeiro e ainda mais audaciosos. É nesse filme que alguns dos monstros mais bem feitos foram introduzidos, como Henrietta Knowby, a esposa do professor Knowby que descobriu o Necronomicon e a própria forma física do demônio Kandariano.
O salto de atuação de Bruce Campbell do primeiro filme para esse é assustador! O ator está completamente investido no papel, entregando tudo e surtando a todo momento! As cenas de luta entre Ash e os Deadites também estão muito melhores, com destaque para a cena em que Ash enfrenta a Sra. Knowby com a ajuda de sua filha, Annie, que além de servir para expandir a história do Professor Knowby, também ajuda com importantes revelações sobre o Necronomicon.
O final de Evil Dead 2 também entrega a ideia original de Sam Raimi para o longa, Ash é transportado para a idade média através de um portal e é recebido como um herói pelos soldados que precisam de ajuda para enfrentar uma praga Deadite, isso marca o início do terceiro filme que utiliza-se da ideia original de Raimi que foi descartada para o segundo.
O retorno financeiro de Evil Dead 2 não foi incrivelmente elevado, mas incentivou os investidores e Sam Raimi a começarem a criar o terceiro filme, conhecido como Army of Darkness. A grande diferença de ambientação e temática desse filme para os antecessores pode atuar como um fator para distanciar quem gostou da premissa da cabana na floresta, porém, o estilo épico medieval acaba sendo tão bem estabelecido que cria uma experiência no mínimo interessante.
É possível perceber o grande salto de orçamento de Evil Dead 2 para Army of Darkness, isso se nota desde a criação de cenários medievais épicos até o figurino e ainda várias cenas de ação com bons efeitos, especialmente no ato final. A comédia tornou-se muito mais acentuada nesse filme e a violência e o sangue já não eram tão presentes quanto nos dois anteriores, o que acaba sendo um ponto fraco para esse filme enquanto um “Evil Dead”, mas não faz dele um filme ruim.
A atuação de Bruce Campbell continua muito boa. Ele saiu do personagem pouco expressivo de Evil Dead 1 para o herói surtado em Evil Dead 2 e, nesse filme, ele lembra muito mais um herói de ação cheio de frases de efeito com uma atitude destemida e estoica. Army of Darkness entrega uma experiência muito divertida, apesar de ser completamente fora da curva em termos de premissa (viríamos a descobrir posteriormente que a franquia Evil Dead é feita de criar experiências fora da curva).
Quando a ideia de fazer um remake de Evil Dead foi sugerida por Rob Tapert para Sam Raimi e Bruce Campbell, Raimi imediatamente achou muito interessante, enquanto Campbell ficou receoso de ser substituído como Ash, porém a ideia de um novo grupo de personagens independente o fez se animar mais para o projeto, o qual ele assumiu como produtor executivo junto com Raimi e Tapert. A questão para que o remake agora acontecesse era somente achar o diretor certo, função que foi prontamente assumida por Fede Álvarez, que ficou extremamente disposto a fazer um filme que prestasse tributo a tudo que fazia o filme original tão bom.
De fato, o remake de Evil Dead, ao mesmo tempo que presta tributo ao original a cada segundo, também não tem medo de ser completamente original, sendo um filme que se leva muito a sério o tempo todo, algo completamente destoante especialmente do segundo e do terceiro filme. O fato desse filme se levar tão a sério faz com que ele seja diferente o suficiente dos anteriores e ao mesmo tempo entregar uma experiência completamente brutal, incrível e de tirar o fôlego.
É possível perceber que esse filme tem uma proposta mais densa desde a premissa, uma vez que a protagonista Mia (Jane Levy) e seus amigos estão indo até a cabana isolada não para se divertir, e sim para ajudar a protagonista a passar por um período de sobriedade longe das drogas. Isso além de ser uma justificativa mais realista para a presença deles num local tão bizarro e ermo, adiciona uma boa dose de terror real para a situação, uma vez também que as percepções da protagonista sobre o sobrenatural serão completamente ignoradas, já que todos vão confundir com efeitos psicológicos uma crise de abstinência.
A fotografia desse filme é muito boa, ela cria uma mistura de atmosfera lúgubre e decadente com um pouco de folk horror especialmente com a cena inicial do exorcismo da garota que supostamente serviria para estabelecer um tipo de background para os eventos do filme, porém as conexões não são tão interessantes e a cena acaba ficando um pouco deslocada, apesar de ser boa.
Nesse ponto já é absolutamente redundante mencionar os efeitos práticos e sua qualidade extraordinária, porém, esse filme elevou a qualidade dos efeitos a um patamar sensacional! É maravilhoso, agoniante e desconfortável assistir cada mutilação, devido ao nível de qualidade dos efeitos. As maquiagens também estão primorosas e um ponto que vale ser ressaltado é o novo design dos Deadites: os olhos amarelos e as aparências menos exageradas serviram como um belo diferencial que crava muito bem a identidade desse filme. O Necronomicon também continua incrivelmente bem feito e as ilustrações são bem macabras, Fede Álvarez e os produtores com certeza aproveitaram cada momento prestando tributos aos filmes clássicos com ótimas referências, inclusive áudios reutilizados do filme original.
Uma curiosidade é que os produtores confirmaram que esse filme está na mesma continuidade da trilogia original, algo que fica implícito com a aparição de Ash em uma cena pós créditos. Foi revelado também que haviam planos para uma sequência desse filme que seria como um ‘Army of Darkness 2’, fazendo com que Ash e Mia se unissem para enfrentar Deadites. Infelizmente, a ideia foi rejeitada pela Universal e as aventuras de Ash continuaram por meio da série Ash vs Evil Dead e ideias para uma sequência da história de Mia foram descartadas.
Sem dúvida Evil Dead é uma franquia ímpar! O fato dela ser tão boa se deve ao trabalho de anos dos produtores que conhecem seus fãs e sabem o que o público espera desses filmes: muito sangue, bons efeitos práticos, Necronomicon e cenas memoráveis de heróis traumatizados matando demônios com motosserras. Diante de tudo isso, resta agora esperar que Evil Dead Rise honre esse legado magnífico e entregue tudo que uma boa história de Evil Dead pede!
Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil