O novo Resident Evil 3, ou RE3 Remake, ou Reimaginação (embora na capa da mídia física brasileira seja dito que é sim um remake) foi anunciado no dia 10 de dezembro de 2019 no State of Play; um evento transmitido pela Sony para anunciar novos jogos e remasters.
Os dois produtores do jogo foram Kawata-san (que produziu alguns jogos como Resident Evil Operation: Raccoon City, Resident Evil: Umbrella Corps e Resident Evil 7: Biohazard) e Peter Fabiano (modelo de rosto do personagem Pete de Resident Evil 7: Biohazard e produtor do novo Resident Evil 2).
Durante todos esses meses de espera foram mostrados alguns trailers e várias imagens do jogo que aumentavam o famoso hype dos fãs que queriam reviver o clássico Resident Evil 3: Nemesis de 1999 com a querida Jill Valentine. Várias teorias também foram criadas, onde muitas pessoas queriam a volta das aranhas (já que não as tivemos no novo Resident Evil 2), novos cenários de Raccoon City como novos bairros e áreas não exploradas no clássico, uma possível aparição dos personagens de Resident Evil 2, entre outras teorias.
No dia 19 de Março de 2020, a Capcom finalmente disponibilizou a demo do jogo intitulada “Raccoon City Demo” para que todos tivessem um gostinho que do que estaria por vir. E finalmente no dia 03 de Abril de 2020 foi lançado o jogo. Abaixo você confere tudo que achamos do game, erros e acertos, críticas construtivas e nosso veredito final. Lembrando que a nossa opinião não reflete na qualidade do jogo, cada jogador deve jogar e tirar suas próprias conclusões.
JOGABILIDADE:
Se tem uma coisa que devemos elogiar no novo RE3 é a jogabilidade. Uma das melhores apostas da Capcom até hoje foi nessa nova mecânica de Gameplay para seus jogos atuais (desde Resident Evil 7: Biohazard), afinal são bastante intuitivas e fazem com que você queira continuar jogando, não possuindo uma experiência cansativa como a de Resident Evil 6. A câmera em terceira pessoa também colabora para a diversão garantida (embora o jogo comece em primeira pessoa). Outro fator bastante interessante é a dificuldade adaptativa semelhante com Resident Evil 4 e Resident Evil 5 (que se adaptavam com o modo como o player joga); exemplo: se você morrer muito, o jogo lhe dá a opção de mudar a dificuldade para o fácil e ainda lhe dá um fuzil da U.B.C.S. com mais munições no cenário e inimigos mais fracos.
GRÁFICOS:
Outro acerto da Capcom desde Resident Evil 7: Biohazard é a incrível RE Engine; vimos que nesse jogo ela foi amplamente melhorada e polida. Ficamos imaginando como será Resident Evil 8 com esses gráficos maravilhosos que fazem seu videogame ou PC fritarem literalmente. Um fator muito negativo é a sincronia das bocas dos personagens. Exemplo: às vezes quando um personagem fala ele continua com a boca fechada, ou fecha a boca antes de terminar a fala; isso é um fator muito ruim e que sinceramente incomoda quem é detalhista, mas nada que não se resolva com uma futura atualização para consertar bugs e sincronias. Outra crítica em relação aos gráficos são os cenários reciclados dos dois últimos lançamentos da série e zumbis reciclados do novo Resident Evil 2. A impressão que dá é que nada foi feito exclusivamente para esse jogo, ou foi feito às pressas.
DUBLAGEM:
A dublagem do jogo está fabulosa, não há o que reclamar. Um exemplo é Jill Valentine que foi dublada pela incrível Nicole Tompkins (versão em Inglês) que soube passar as emoções da personagem perfeitamente, com muitos gritos e gemidos. Recomendamos não cortar as cenas para que todos possam desfrutar desta incrível dublagem.
TRILHA SONORA:
Se tem um ótimo fator que todos os jogos da série têm (inclusive Umbrella Corps), é a trilha sonora. A trilha sonora do jogo é simplesmente ótima; desta vez os produtores optaram muitas das vezes pelas músicas clássicas remixadas (como a música dos créditos), ou sem remix (música da Save Room da delegacia do novo Resident Evil 2). Entretanto não tivemos apenas as músicas clássicas com remix e sem remix, também temos soundtracks novas, como as trilhas tocadas durante as perseguições do temível Nemesis.
SOM:
O som do jogo complementa a incrível trilha sonora; você se sente imergido na amada cidade de Raccoon, e há momentos que você ouve gritos na cidade que está morrendo aos poucos, o vento batendo nas árvores, a água caindo, o fogo queimando, tudo muito bem apresentado.
CENÁRIOS:
Ficamos muito chateados (e muitos fãs também) que muitos dos cenários clássicos não estão nessa Reimaginação/Remake. O cemitério não está no jogo (apesar que existir o cemitério da R.P.D. no game, mas não é o clássico que tanto queríamos), o icônico posto STAGLA aparece rapidamente no máximo cinco segundos, o parque de Raccoon City também não está presente no jogo (apesar de, ao lado da Clock Tower, existir uma pequena praça que lembra bastante um parque, mas não é o clássico que também gostaríamos de ver), a prefeitura talvez esteja no jogo, afinal nessa praça do lado da Clock Tower existe um edifício parecido com a prefeitura e com uma estátua que talvez seja do prefeito Michael Warren, mas nada confirmado. Mas a maior crítica que temos a fazer é que não há como acessar a Clock Tower (Torre do Relógio de São Miguel); no clássico era possível adentrar na torre. De resto, há muitos cenários novos na cidade, no hospital e nos laboratórios.
ARMAS:
O jogo possui uma vasta quantidade de armas como faca, pistolas, shotguns, lança granadas, Magnum, Rocket Launcher infinita, fuzil, fuzil infinito, chapa quente e granadas explosivas e flash. São bem úteis contra todos os inimigos; percebe-se que cada arma funciona melhor em um inimigo específico. Um ponto negativo é não possuir a icônica Samurai Edge de Jill já disponível de início no game.
HISTÓRIA:
A história do jogo tem a essência clássica, porém reformulada com novas adições. Confira abaixo o que foi acrescentado nos personagens nessa Reimaginação:
•Jill Valentine: Gostamos muito do fato de Jill Valentine estar em cárcere privado após o incidente da mansão e ter batido de frente com o chefe de polícia Brian Irons para que fosse feita uma investigação sobre tudo que aconteceu envolvendo a Umbrella Corporation. Como Irons estava envolvido indiretamente com tudo isso, resolveu manter Jill em casa presa para que ela não descobrisse mais nada, a acusando de estar delirando e que nada disso aconteceu. Após isso, a protagonista resolve montar uma investigação para descobrir tudo que está por trás da Umbrella. A construção da relação de Jill e Carlos foi um ponto extremamente positivo; apesar de Jill ser inicialmente ríspida com o jeito “malandro” de Carlos, os dois conseguem transmitir aos fãs a sensação de laços de amizade que foram construídos durante a trama. A roupa de Jill também está diferente (para quem fez a Pré-Compra, poderá jogar com a roupa clássica), a icônica saia e o tomara que caia foram substituídos por uma calça jeans e por uma camisa azul.
•Carlos Oliveira: Sem dúvida nenhuma Carlos brilhou muito nesse jogo; o protagonista é muito carismático, e extremamente caricato. As partes em que jogamos com ele são muito divertidas e que acrescentam bastante na Lore (História) de Resident Evil. O novo visual de Carlos também nos remete ao seu passado de guerrilheiro e prisioneiro, com um cabelo enorme e despenteado e com barba sem fazer. Para quem fez a pré-compra, poderá jogar com o rosto clássico do personagem.
•Nicholai Ginovaef: Nicholai continua sendo um supervisor da U.B.C.S. e aparentemente está trabalhando para outra organização que não nos é revelada durante o jogo. Uma oportunidade perdida da Capcom foi explorar ainda mais o vilão; infelizmente sua história não é nada aprofundada e é muito rasa comparada ao clássico. Infelizmente a série está carente de vilões e esta foi mais uma chance de perdida de deixar Nicholai um vilão muito icônico.
•Mikhail Victor: Mikhail não mudou muito para o Mikhail clássico, mas sua história também não é nada aprofundada, nem se dão o trabalho de explicar como ele já conhecia Jill.
•Murphy Seeker: Murphy, assim como no clássico, aparece rapidamente e já morre. Sua história se mantém a mesma.
•Tyrell Patrick: Tyrell, no jogo clássico, era um supervisor assim como Nicholai, porém desta vez ele é apenas um membro da U.B.C.S. que está junto com Carlos e Mikhail. No clássico ele era um vilão e neste jogo é uma pessoa boa. Mesmo desconstruindo o personagem que já conhecíamos, gostamos bastante desta nova mudança.
•Brad Vickers: Outro personagem totalmente desconstruído, afinal o Brad clássico era conhecido como um personagem nada corajoso e que não pensava em ajudar seus companheiros. Desta vez ele volta como um personagem que quer se redimir por ter deixado os S.T.A.R.S. na mão durante os eventos do primeiro Resident Evil, afinal ele se sacrifica para ajudar Jill. Sua morte também foi alterada, no clássico era morto por Nemesis, e agora é morto por Carlos ao atacar o policial Marvin (Brad é mordido por um zumbi que o faz se transformar em um também).
•Dario Rosso: Dario apenas aparece rapidamente e se esconde de Jill como no clássico. Infelizmente não tem como voltar para vê-lo morto.
•Marvin Branagh: O tão amado policial de Resident Evil 2 também faz uma aparição rápida, onde é mostrado como foi mordido (por Brad zumbi). Isso conflita com Resident Evil Outbreak: File #2 onde Marvin não é mordido por Brad e sim por outro zumbi aleatório ao tentar salvar a policial Rita Philips.
•Robert Kendo: O dono da loja de armas de Resident Evil 2 também faz uma aparição breve conversando com Jill Valentine. O personagem não quer fugir de sua loja com Jill pois sua filha Emma Kendo foi infectada. É possível ouvir Emma chamando por ele.
•Nathaniel Bard: Um novo personagem foi adicionado à trama, Bard é um cientista que está desenvolvendo uma vacina contra o T-Virus e está na mira da Umbrella Corporation. O personagem é um ponto positivo para o jogo, mas com ele ou sem ele a história não muda muito.
•Barry Burton: No final de Resident Evil 3 clássico, o amado Barry Burton faz uma aparição salvando Jill e Carlos no helicóptero, agora infelizmente Barry foi retirado do jogo, o que é triste, afinal era nesse momento em que Barry se redimia à Jill por ter traído ela durante o incidente da mansão.
INIMIGOS:
•Nemesis T-Type ou Nemesis T-02: Uma crítica que temos a fazer é que faltou mais aparições do Nemesis, como no clássico; infelizmente ele aparece muito pouco e em cenas scriptadas. Mais uma vez a Capcom não conseguiu mostrar o potencial de sua melhor arma biológica já criada. Sua “Forma 2” dos tentáculos não existe no jogo, e é substituída por uma forma em que ele fica de quatro como um Licker. Sua última forma (Metamorfose) se assemelha bastante à de Derek C. Simmons em Resident Evil 6. Talvez fosse bacana colocar as formas clássicas do icônico vilão, mais essas formas normas.
•Zumbis: Os zumbis estão de volta, mas uma vez sedentos por carne e dispostos a matar Jill e Carlos. O fato negativo é que são todos repetidos de Resident Evil 2.
•Cerberus: Os cães infectados com o T-Virus estão também no jogo, embora apareçam muito pouco.
•Hunters Gamma: Os Hunters Gamma que se assemelham a sapos gigantes que vagam os esgotos estão de volta, desta vez com uma aparência muito diferente. Uma crítica é que aparecem muito pouco no jogo.
•Hunter Beta: Os Hunters Beta também voltam no jogo, principalmente no hospital e nos laboratórios da Umbrella; gostamos bastante do novo design da arma biológica, com um visual grotesco e amedrontador (para muitos, mais amedrontador do que o próprio Nemesis).
•Lickers: Os Lickers de Resident Evil 2 também estão em Resident Evil 3 (não há Lickers no RE3 clássico), porém aparecem apenas dois no jogo (exceto nos modos Pesadelo e Inferno). Mais uma vez, outra oportunidade não aproveitada, seria muito legal vermos e enfrentarmos mais Lickers no jogo.
•Zumbis de Tentáculo: Nemesis é capaz de implantar seu parasita NE-Alpha nos zumbis que podem atacar o jogador com tentáculos. Essa adição é muito legal, porém não muito bem executada.
•Zumbis Pálidos: Esses zumbis aparecem na DLC “The Ghost Survivors” do novo Resident Evil 2, e se regeneram. São muito irritantes, mas gostamos da ideia de serem adicionados ao jogo, eles se equivalem aos Zombies Naked (Zumbis Pelados) dos clássicos, mas somente no visual, não na resistência.
•Drain Deimos: Pulgas gigantes que implantam um parasita na garganta de Jill Valentine, e possuem um grande ninho na subestação de energia. Uma pena que não aparecem muito durante o jogo, como nos clássicos.
Infelizmente as aranhas, Grave Digger, Brain Suckers e corvos não estão no jogo, outro ponto negativo do jogo em nossa opinião. O que gostaríamos que fosse mostrado seria o Tyrant T-103 (Mister X) sendo enviado à Raccoon City, já que não foi mostrado no novo Resident Evil 2.
TROFÉUS/CONQUISTAS E EXTRAS:
O jogo conta com 33 troféus/conquistas, a maioria dos troféus e conquistas são fáceis de serem conseguidos porém existem alguns difíceis como os troféus de terminar o jogo nos modos Pesadelo e Inferno. Em suma, porém, a maioria são fáceis. Um ponto negativo é que o jogo tem uma quantidade muito baixa de troféus e conquistas, diminuindo a vida útil do jogo. Após terminar o jogo você poderá liberar uma loja no menu principal onde vários itens podem ser comprados, como a nostálgica roupa dos S.T.A.R.S. de Jill Valentine, a Samurai Edge, armas infinitas, entre outros.
O jogo acompanha o multiplayer assimétrico 1 VS 4 “Resident Evil Resistance” no qual vários sobreviventes devem fugir de um campo de batalha controlado por um Mastermind da Umbrella. O modo possui 52 troféus e conquistas, o que mostra que o novo Resident Evil 3 foi talvez deixado em segundo plano para que o foco fosse em Resistance (muitos fãs apostam que REsistance é que seria, de fato, um jogo “standalone”, mas, devido a sua baixa repercussão, apressaram a produção da releitura de Resident Evil 3 para compor o pacote). A Capcom já afirmou em entrevistas que pensou em lançar o novo RE2 e o novo RE3 em um mesmo pacote em 2019, porém desistiu da ideia e lançou os jogos de forma separada; agora, é possível comprar em lojas digitais a “Raccoon City Edition”, um bundle que contém as duas reimaginações, mais o modo online REsistance.
CONCLUSÃO FINAL:
O novo Resident Evil 3 é um jogo muito bom, porém possui falhas por não respeitar o clássico Resident Evil 3: Nemesis de 1999. De fato não é um Remake, está bem mais adequado ao conceito de “reimaginação” ou “releitura”, e para que você, fã dos jogos antigos, possa aproveitar o jogo da melhor maneira possível, deverá esquecer o game clássico e focar em uma nova experiência. Infelizmente, mais uma vez (como ocorreu no novo RE2), a sensação que fica é que a Capcom não soube recontar os eventos de Resident Evil 3 de forma digna e plausível; o jogo é um prato cheio para os “speedrunners” por ser extremamente linear (para muitos o jogo é curto, porém entendemos que ele tem a mesma duração de outros REs clássicos).
Talvez o ponto mais alto do novo Resident Evil 3 seja a sua conexão com o novo Resident Evil 2, algo que a Capcom soube explorar de forma satisfatória. No novo RE2, nós lamentamos muito a ausência de conexões mais vibrantes com o primeiro Resident Evil, porém, no novo RE3, as conexões com a reimaginação anterior são muitas, e bem evidentes, o que reforçam a fala da Capcom ao ter mencionado que por pouco não lançou os games juntos em 2019.
Para concluir, recomendamos que todo fã da série jogue e tire suas próprias conclusões. O novo RE3 é uma experiência que deve ser entendida, ao nosso ver, como “paralela” de fato, como uma releitura que não busca compromisso com o jogo clássico de 1999. Para os novos fãs que não jogaram os clássicos, talvez seja uma experiência menos depressiva, mas os fãs antigos ficarão com aquele gostinho de quero mais!
Essa análise foi feita após jogarmos no PlayStation 4 Pro em uma cópia antecipada cedida gentilmente pela Capcom Unity Brasil na madrugada do dia 2 de abril de 2020. Ficam aqui nossos agradecimentos à Capcom, e a todos vocês amigos comrades que leram até aqui!
Editor e Redator do EvilHazard, mineiro, fanático pela série Resident Evil e fanático por Jill Valentine e Chris Redfield.