Quando foi lançado, no final de 2006, o Nintendo Wii trazia uma proposta diferente de seus concorrentes diretos, o PS3 e o Xbox 360: era um console de hardware simples, apostando todas as suas fichas na “inovação” trazida pelo controle Wii Remote. A estratégia da Big N deu muito certo (golpe de sorte ou não) e o Wii explodiu em vendas, deixando pra trás Sony e Microsoft e conquistando uma gama cada vez maior de jogadores, de todos os gêneros e idades, ao redor de todo mundo.
É dentro deste contexto que a Capcom, esperta, idealizou e lançou, para o Nintendo Wii, Resident Evil: The Umbrella Chronicles.
Ano de lançamento: 2007
Publicadora: Capcom
Desenvolvedoras: Cavia, Capcom
Gênero: Shooter Sob Trilhos
Produtores: Masachika Kawata, Toru Takahashi
Número de jogadores: Single-player e Multiplayer (até 2 jogadores)
Antes de mais nada, vale avisar: o jogo não é um clássico e está longe da perfeição. Na realidade, RE: The Umbrella Chronicles em si só é um Resident Evil pela história que traz e pelo tema que carrega no design das fases e inimigos, pois sua jogabilidade e mecânica em nada se parece ao dos jogos principais. Por falar em mecânica, a lógica dos “shooters on rails” dos arcades é seguida à risca, naquele velho esquemão que todos já conhecemos de jogos como Virtua Cop e Area 51. Absolutamente linear e previsível, ainda sim divertido.
No game, o jogador tem de volta a experiência de passar por cenários já conhecidos de Resident Evil Zero, Resident Evil 1, e Resident Evil 3, além da chance de descobrir como um império chamado Umbrella começou a cair. A grande promessa do jogo era a de responder algumas perguntas que ficaram sem respostas em Residents anteriores, uma espécie de “visita aos bastidores” dos principais eventos ocorridos nos jogos clássicos da franquia.
O que faz de RE: The Umbrella Chronicles um ótimo game, é que ele conseguiu ir além do gênero a que pertence. Não basta apenas matar as legiões de inimigos e recolher munição, é necessário achar documentos secretos e armas extras escondidos nos diversos objetos quebráveis que fazem parte dos cenários das fases. Há dezenas destes, como vasos, placas, lâmpadas, janelas, etc. O bacana é que isso influenciou no design de fases, já que destruir as lâmpadas deixam os jogadores na escuridão e os quadros pendurados em paredes caem e deslizam pelo chão de forma convincente, o que contribui para a imersão que o jogo propõe. A curva de dificuldade é bastante orgânica, variando entre momentos mais fáceis e difíceis de forma harmônica, com dinamismo que pode ser considerado muito bom.
Os documentos coletados contém informações sobre a história da série e dos personagens principais, o que ajuda a preencher alguns buracos que haviam na trama e deve ser prato cheio para os fãs de Resident Evil. Durante as fases há uma boa dose de diálogos entre os personagens – são sempre dois, mesmo com um jogador só – criando assim uma narrativa que lembra a dos filmes de ação. O problema é que os dubladores são às vezes “forçados” e os diálogos são bem ruins, o que mata o clima de tensão várias vezes durante as partidas. Ouvir coisas do tipo: “Watch your step princess!/Don’t call me princess” enquanto Biily e Rebecca fogem dos zumbis sobre um trem em movimento, é apenas um dos muitos momentos constrangedores durante as partidas.
O Wiimote cumpre bem seu papel na jogabilidade, com mobilidade e precisão satisfatórios. O estranho sobre essa parte é que o sistema de detecção do jogo por vezes pareceu meio estranho, pois é uma tarefa inglória conseguir acertos críticos e por diversas vezes o jogador dá tiros perfeitos na cabeça dos zumbis sem derrubá-los. Essa inconsistência tornou a tarefa de matar o chefe da terceira fase do Capítulo 1 algo bem frustrante, por exemplo. Após o termino dos estágios, o desempenho dos jogadores é medido, dando-lhes estrelas conforme as médias das notas conquistadas. Essas estrelas são necessárias para melhorar as armas, uma decisão inteligente do design, já que incentiva os jogadores a voltarem às fases já completadas.
Graficamente o jogo é muito bom, cheio de efeitos e bastante movimentado, sem quedas de frame aparentes. Não é distante de Resident Evil 4 do GameCube por exemplo (que é belo ainda hoje), aliás, é difícil acreditar que o GameCube pudesse fazê-lo no mesmo patamar, mesmo em 30 fps. O jogo foi bem recepcionado pela crítica especializada da época e gerou uma espécie de continuação, Resident Evil: The Darkside Chronicles. Em junho de 2012, o jogo foi remasterizado para o PlayStation 3 junto de Darkside Chronicles, rodando em 720p e com suporte a troféus.
Pra finalizar, Resident Evil: The Umbrella Chronicles é um game que vale no mínimo um fim de semana no seu console. É também a prova de que quando as produtoras terceirizadas se esforçam um pouco, o resultado compensa. O jogo consegue explorar muito bem o hardware do Wii, ficando em um nível geral muito bom, mesmo com algumas falhas, como zumbis atravessando cortinas, problema que era muito comum há duas gerações atrás. Cenários como o hall principal da mansão, a delegacia vista em Resident Evil 3 e praticamente todas as cenas de animação do jogo ficaram excelentes, sem falar nos detalhes sobre a história do jogo em si, bastante enriquecedores.
É sem dúvida uma boa pedida para qualquer fã apaixonado pela maior franquia da Capcom!
Texto adaptado do nosso Redator André Franco (AvcF), publicado em seu blog Loading Time.
Fundador e Administrador do EvilHazard, mineiro, de BH e da Independência, advogado, oldschool gamer, uma criança Wesker e fanático por Resident Evil.