Há 30 anos era lançado Sweet Home, o jogo que não apenas foi o pai de Resident Evil, como deu partida ao gênero “survivor horror” mesmo 7 anos antes do termo ser inventado quando do lançamento da versão original de Resident Evil de Playstation em 1996. Por não ter sido lançado fora do Japão, Sweet Home permanece desconhecido do grande público, e portanto nunca teve sua qualidade e importância reconhecidos. Neste texto você vai entender porque ele foi essencial para que a Capcom pudesse dar origem à franquia Resident Evil!
Em 1989, a Capcom já se destacava como uma das melhores produtoras de jogos do mundo, lançando clássicos tanto para consoles como para Arcades, com Mega Man 2 e Final Fight como os exemplos mais conhecidos. Evidentemente, era uma produtora muito requisitada para jogos licenciados, desde licenças famosas como Duck Tales, da Disney, até de filmes pouco conhecidos do grande público, como Willow.
Falando em filme pouco conhecido, no mesmo ano de 1989 a Capcom produziu outro jogo licenciado, Sweet Home, um filme de terror lançado para os cinemas japoneses. Embora jogos lançados junto de filmes costumem ser exemplo de porcarias com valor de produção de troco de pinga, Sweet Home não apenas foi o mais fiel possível à obra de origem, como acabou se tornando a semente que anos mais tarde se transformaria no clássico Resident Evil.
Assim como no filme, Sweet Home – o jogo – segue a história de cinco personagens que partiram para produzir um documentário sobre obras de arte de um famoso pintor em um castelo abandonado – e obviamente – mal assombrado. Em seguida, a cena da porta abrindo, tão famosa em Resident Evil, aparece logo de cara. O início mostra os personagens ficando presos no castelo, e o jogo deixa claro que todos terão de cooperar para achar a saída. Cada um dos personagens tem um item que será necessário para progredir no jogo. Logo na primeira tela, por exemplo, o jogador tem que usar o aspirador de Asuka para aspirar cacos de vidro espalhados no chão. Em seguida, o jogador pode usar a câmera de Taro para registrar um afresco. Emi, por sua vez, destranca portas – habilidade que anos depois ficaria famosa com Jill “master of unlocking” Valentine em Resident Evil. Falando nisso, Kazuo, o personagem principal, tem um isqueiro, exatamente como Chris também tinha no primeiro RE, que será necessário para queimar cordas e iluminar salas escuras com uma vela. Por fim, Akiko é a única capaz de curar personagens envenenados.
O sistema de jogo é próximo aos RPGs da época, com o jogador podendo compor um time de até três personagens e gerenciando ações e items por menus. Por falar em gerenciar, o jogador terá que constantemente ir e voltar para buscar os personagens que ficam para trás, tanto por conta dos items específicos de cada um, quanto pelo risco que é deixar alguém para trás sozinho. Isso porque o jogador terá que enfrentar monstros e assombrações que aparecem em batalhas aleatórias, e diferente dos RPGs daquela época, as mortes em Sweet Home são permanentes. Além dos monstros, o castelo em si também é hostil, com pedaços do chão que desmoronam, e mesmo lustres que caem de repente, que por sinal engatilham uma versão primitiva de um quick time event.
Por tudo isso, há uma tensão permanente sobre o jogador, pois cada ação conta, e apesar de ganharem níveis como em RPGs tradicionais da época, os personagens são sempre um tanto vulneráveis e só recuperam pontos de vida com “tônicos”, encontrados em diversas salas do castelo. Assim como também seria padrão futuramente nos jogos Resident Evil, os items de Sweet Home são escassos e finitos, então mais uma vez gerenciamento é a palavra de ordem. Falando em Resident Evil, a história de Sweet Home se desenrola com agilidade, ficando os detalhes da trama guardados em bilhetes ou escondidos em quadros e pinturas, algo similar aos documentos de RE.
Apesar do jogo todo se passar em um castelo, a Capcom fez um trabalho impressionante para que Sweet Home não ficasse visualmente repetitivo. O jogo é graficamente variado, com os desenhistas fazendo o que podiam para contornar as limitações nos NES. Os monstros e assombrações são bem desenhados também, e tudo roda com taxa de quadros constante. Os sons e trilha sonora também foram feitos com competência, e o conjunto gráfico e sonoro resultou em uma excelente atmosfera de terror 8-bits.
Então, o que acharam? Não resta dúvida de que se Sweet Home pudesse ter sido lançado fora do Japão, ele teria se tornado um dos grandes clássicos da Capcom para o NES, tal qual Duck Tales ou Mega Man 2, por exemplo. Diferente do filme, um terror daqueles – aliás, dá para assistir inteiro no Youtube – Sweet Home – o jogo – envelheceu bem, continua jogável assim que você se acostuma com o esquema ultrapassado de lidar com os menus, e o tanto de backtracking presente no jogo.
Se você é amante do survival horror, dê uma chance ao jogo, é bem provável que você não irá se arrepender!
Paulista de Taubaté, Designer Gráfico, Designer de Games, quality assurance tester, tradutor de Inglês e Francês e dono do blog e canal Loading Time.