Dentro do universo de Resident Evil, diversos governos, organizações terroristas, criminosos e empresas bilionárias se beneficiaram diretamente do uso e do comércio de armas biológicas como vírus, parasitas e até mesmo a fabricação de monstros com esses agentes biológicos. Entretanto, vale ressaltar que um elemento também presente na franquia é a utilização de cultos religiosos como ferramenta de dominação, controle e experimentação com os agentes biológicos.
Neste artigo, vamos relembrar os cultos presentes nos jogos Resident Evil 4 e Resident Evil Village, como eles constituíram a lore e o terror presentes nesses jogos.
Los Illuminados:
A história do culto que se formou em torno do parasita Las Plagas tem origem muito antes da própria história da campanha de Resident Evil 4 e seu remake. O culto que seria a manifestação original do Los Illuminados era a religião principal dos habitantes do vale montanhoso Valdelobos, o local onde viria a se situar o vilarejo de RE4. Durante a Reconquista, que foi uma grande cruzada empreendida pelos reinos cristãos entre os séculos VIII e XV, o cavaleiro da coroa espanhola, Gregório Salazar (ancestral de Ramón Salazar), invadiu a região com suas tropas sob ordens de eliminar um culto considerado demoníaco naquela região.
Gregório encontrou um séquito de cultistas que realizam sacrifícios humanos em honra a um estranha criatura que provavelmente ele interpretou como uma obra de satanás, mas era o parasita Las Plagas. O exército de Salazar avançou e destruiu todos os cultistas, queimando vários deles e fazendo com que os sobreviventes recuassem para as montanhas, local em que os seguidores do Las Plagas mantiveram seu culto às escondidas, ocasionalmente entrando em conflito com as tropas do homem que agora era conhecido como Conde de Valdelobos e ganhara um castelo na região para estabelecer sua dinastia.
Você pode conferir todos os detalhes sobre a história da família Salazar aqui, o fato é que eles governaram a região por muitos anos, consolidando seu poder e mantendo a população sob controle, devota ao catolicismo e distante de seu passado pagão que agora residia com os estranhos cultistas que habitavam os arredores montanhosos da vila.
Entretanto, tudo mudou quando, sob circunstâncias misteriosas e suspeitas do envolvimento de seu próprio filho (Ramón), o sétimo castelão da família Salazar, Diego, foi morto. Ramón tinha uma relação altamente abusiva com o seu pai que provavelmente o moldou para ter uma personalidade extremamente sádica, despótica e narcisista. Além disso, ele tinha uma doença que lhe deixava terrivelmente debilitado o tempo todo. Por conta disso, sua mãe, Catalina, em um esforço desesperado para salvar a vida de seu único herdeiro, contatou um homem misterioso que era líder dos pagãos que habitavam nas montanhas: Osmund Saddler.
Saddler dividiu seu “dom” com Ramón, o parasita conseguiu mitigar o avanço de sua doença e conservou suas funções cerebrais, contudo, isso teve consequências devastadoras para o oitavo castelão: seu corpo sofreu mutações que o impediram de crescer e o deixaram com uma aparência de idoso mesmo tendo apenas 20 anos, além disso, agora ele tinha lealdade irrestrita ao profeta Saddler.
Ramón adotou a religião do Las Plagas para si e deu liberdade, poder e recursos para que Saddler implantasse o culto em toda a região, fazendo com que na prática ele fosse o líder de fato de todo o vilarejo. Além disso, Saddler ganhou acesso ao que ele mais queria: as Plagas fossilizadas nas minas do castelo. Esses eventos marcaram o início do que foi visto no livreto Biohazard: Incubate, e você pode conferir um resumo de toda a história aqui!
A religião católica foi destituída e o antigo culto ao parasita Las Plagas retornou com força total: os aldeões estavam totalmente controlados pela mente dos parasitas que os infectavam, que eram completamente subordinadas à plaga controladora de Lorde Saddler. As autoridades espanholas começaram a ter uma certa preocupação com aquela área isolada e reclusa devido ao fato de que estavam cada vez mais desaparecendo montanhistas e trilheiros que se aventuravam nas redondezas, onde muitos eram mortos e sacrificados em rituais macabros. O objetivo de Saddler era espalhar seu culto para o mundo inteiro, infiltrando o governo dos EUA por meio de Ashley Graham e infectando membros do alto escalão com o parasita em sua forma subordinada.
Após os eventos de Resident Evil 4, a área do vilarejo ficou isolada pelas autoridades da Espanha, a maioria dos membros do culto foram mortos, suas instalações foram severamente comprometidas ou destruídas e suas operações foram majoritariamente desmanteladas.
Vale lembrar que ainda existem membros dos Los Illuminados vivos, uma vez que, em Resident Evil Vendetta, antes de morrer, Patricio revelou para Leon S. Kennedy e Chris Redfield que esses remanescentes se aliaram com Glenn Arias para organizar um ataque bioterrorista em larga escala. É interessante ressaltar também que o próprio Patricio foi um dos membros sobreviventes do Los Illuminados, ele passou vários anos sobrevivendo como um traficante de drogas e um infiltrado no governo americano, inclusive sabotando uma operação da DSO que resultou na morte de todo o esquadrão de Leon, algo que o abalou profundamente.
Culto do deus negro:
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O culto que vemos em Resident Evil Village é chamado de religião do deus negro, uma referência ao mofo e a raiz fúngica do Megamiceto, o centro do culto. Assim como visto em Resident Evil 4, a história desse culto precede a campanha principal do jogo e se assemelha em alguns pontos: o Megamiceto era cultuado por uma antiga civilização que existia naquela região montanhosa do leste europeu, e essa cultura misteriosa ergueu diversos monumentos de pedra gigantescos, incluindo um altar e as estátuas de quatro reis.
Esses quatro reis eram os antigos líderes políticos e religiosos daquele povo, seus nomes eram Cesare, Berengario, Guglielmo e Nichola. É indicado no jogo que essas figuras seriam os ancestrais respectivamente das famílias nobres, Dimitrescu, Beneviento, Heisenberg e Moreau. Presumivelmente, esses homens constituíram suas autoridades em torno de poderes ou mutações que eles ganharam em contato com o mofo, entretanto, em algum momento, uma catástrofe misteriosa recaiu sobre aquela região, fazendo com que muitos de seus habitantes fugissem ou morressem durante o desastre.
O local posteriormente viria a ser habitado por uma nova população que ergueu um vilarejo nos arredores das ruínas; evidências no jogo não deixam explícito se a população da aldeia já havia sido convertida ao cristianismo, entretanto, sabe-se que o Castelo Dimitrescu foi construído no século XV, contexto histórico em que as terras que atualmente compõem a Romênia (Valáquia, Moldávia e Transilvânia) eram predominantemente influenciadas pelo Cristianismo ortodoxo. Vale lembrar que nessa época também haviam as invasões do Império Otomano, os quais encontraram resistência de diversos líderes locais, incluindo o conhecido Vlad III, que deu origem à lenda do Conde Drácula.
Levando em conta que o Castelo e o clã Dimitrescu são um paralelo ao Castelo e ao clã Drácula da ficção, fica implícito que os antepassados da Lady Dimitrescu foram aristocratas cristãos ortodoxos que resistiriam aos invasores otomanos. Essa ideia é reforçada no jogo pela existência de um arquivo escrito por um soldado na fortaleza: no arquivo, o soldado manifestou grande curiosidade pelas origens da civilização que os locais disseram ser muito antiga e que havia deixado as ruínas da região do cálice do gigante e as estátuas dos antigos reis. No texto ele também lamentava as ordens do rei de recuar diante dos ”hereges” que estavam nas proximidades.
Dado o fato de que o soldado mencionou um ”rei” e não um sultão e que ele aparentemente teve uma interação relativamente pacífica e cordial com os locais presumivelmente ortodoxos, é de se supor que ele era um dos soldados aliados aos líderes locais resistentes aos otomanos, os quais ele classificou como ”hereges”.
Muitos anos depois desses eventos, em 1918, uma mulher local chamada Miranda perdeu sua filha Eva para a gripe espanhola e se isolou em uma caverna local para morrer. Sozinha e decidida a encontrar o fim, Miranda acabou ao invés disso encontrando uma nova vida: ela tocou uma misteriosa substância negra oriunda de um grande organismo similar a um feto e sua mente foi invadida por conhecimento de todos aqueles que morreram na região, fazendo-as perceber que talvez a consciência de sua filha ainda estivesse viva dentro do deus negro. Além disso, ela adquiriu poderes de se transformar e imortalidade.
Com seus novos poderes, Miranda ressurgiu no vilarejo como a profetisa do deus negro, uma figura messiânica que usou os poderes do mofo para curar as pessoas da gripe espanhola e implantar sua influência em suas mentes. Ela se tornou reverenciada como uma deusa na região e restabeleceu a adoração ao deus negro que vigorava no passado daquele local, quando os quatro ancestrais lendários reinavam.
A profetisa aproveitou-se da ancestralidade dos quatro lordes de Resident Evil Village com os quatro fundadores e criou toda a mística em torno de seus generais, fazendo-os parecer figuras divinas que estavam a serviço do deus negro, representado por Miranda, sua sacerdotisa absoluta. Miranda estabeleceu uma intrincada rede de controle e manipulação com os seus subordinados, utilizando uma mescla de fanatismo religioso, crenças folclóricas e isolamento populacional para fechar ainda mais seu séquito em torno de si mesma e de suas verdades, proibindo quaisquer acesso a informações e jornais do mundo exterior.
Dentro desse misticismo criado por Miranda para influenciar as mentes simples de seus seguidores, havia o medo das criaturas criadas pelo parasita Cadou como os Licanos, os quais eram interpretados como os lobisomens do folclore que só podiam ser repelidos pela sacerdotisa. Além disso, o Castelo Dimitrescu era visto como um lugar temível onde todos que entravam jamais voltavam e os corredores eram preenchidos pelos gemidos e uivos das vítimas da condessa; a Casa Beneviento era considerada um lugar assombrado pela misteriosa fabricante de bonecas Donna; o reservatório era o lar do desfigurado Moreau, que podia se transformar em um monstro que matava os pescadores e sumia com os corpos; e por fim havia a fábrica do odioso Lorde Heisenberg que profanava túmulos e levava pessoas para realizar experimentos brutais.
Esses mutantes interpretados como seres míticos e reverenciados religiosamente não eram nada mais que tentativas falhas de Mãe Miranda de criar o receptáculo perfeito para a consciência de Eva e que acabaram mortos junto com ela durante os eventos de Resident Evil Village e o ataque de Ethan Winters, Chris Redfield e a BSAA na região. É provável que o culto tenha sido extinto após esses eventos, especialmente por não ter tido o mesmo escopo e estrutura complexas do Los Illuminados que queriam dominar o mundo, enquanto Miranda queria apenas trazer uma pessoa morta de volta.
Esses são os cultos que aparecem nos jogos de Resident Evil, ambos desempenharam funções marcantes na lore do jogo e adicionaram elementos intrigantes que mesclam terror e misticismo dentro do ethos da franquia! Vale lembrar que é bem possível que vejamos algum novo jogo de Resident Evil com terror envolvendo um culto, já que é algo que ficou meio em alta na franquia com RE4 Remake e RE Village, além dos rumores de RE9 indicarem que isso pode sim ocorrer!
E você, caro(a) partner? qual desses cultos é o seu preferido? Não se esqueça de curtir e comentar!
Alagoano, Redator do EvilHazard, fã do universo do Terror e apaixonado por Resident Evil
