Em 22 de março de 1996, chegava ao PlayStation 1 o jogo que redefiniria o gênero “survival horror”, que foi gerado pelos primeiros games da série Alone In The Dark. Com uma cena de introdução filmada com atores reais, nascia um jogo que venderia milhares de unidades e ajudaria a alavancar as vendas do primeiro console da Sony. Ainda que não soubessem na época, esse era o primeiro passo daquela que viria a se tornar a principal franquia de uma das maiores empresas do mercado dos games: a Capcom.
Raccoon Forest – Julho de 1998
— Captain Wesker, where’s Chris?
Com essa frase, começava uma das franquias de maior sucesso no mundo inteiro: Resident Evil. Nunca ouviu falar? É um pouco difícil de acreditar, mas como existe a possibilidade de você ser novo nesse mundo do survival horror, aqui vai uma breve explicação sobre uma das maiores séries de jogos da história, e que no dia de hoje completa 22 anos de existência: em julho de 1998, casos de desaparecimentos e mortes bizarras na região das montanhas Arklay, no município de Raccoon City, despertam um alerta na polícia local. A partir daí, dá-se início ao pesadelo.
O jogo criado por Shinji Mikami, chamado de BioHazard no Japão, chegou ao mercado há 21 anos, primeiro para o PlayStation 1 e depois para o PC e o Sega Saturn. O enredo era envolvente e cheio de mistérios: no comando dos protagonistas Chris ou Jill, membros da unidade tática da cidade de Raccoon City (S.T.A.R.S.), o jogador precisava explorar uma mansão no meio de uma floresta, repleta de passagens secretas e armadilhas, e ainda tinham que lidar com zumbis e outras criaturas perigosas para tentar sobreviver. Para aumentar a imersão do jogador, Resident Evil possuía grandes cenários (como não se lembrar do famoso hall da mansão?) e em ângulos de câmeras pré-determinados, o que transmitia facilmente um ar ameaçador e apavorante.
ONDE TUDO COMEÇOU
A RPD (departamento de polícia de Raccoon) conta com um esquadrão especial tático de resgate conhecido como S.T.A.R.S., que é acionado para investigar os estranhos casos relatados. Contando com duas equipes principais, ALPHA e BRAVO, esta última é a escolhida para investigar a área. Depois de alguns dias, nenhum sinal do esquadrão Bravo é encontrado e nenhuma comunicação é relatada. Então o esquadrão Alpha, composto por Chris Redfield, Jill Valentine, Barry Burton, Joseph Frost, Albert Wesker e Brad Vickers, é enviado para investigar o desaparecimento da equipe BRAVO. E é aqui que tudo começa…
ESTILO DE JOGO
O primeiro game trazia elementos completamente novos em relação aos jogos vistos até então. Os controles eram diferentes, as câmeras fixas inovadoras… era um mundo completamente novo para qualquer jogador de vídeo game da época. O jogo também ficou conhecido como o primeiro Survival Horror da geração 32 bits de consoles, o que atraiu uma gama enorme de fãs de jogos de terror e suspense. Muitos sofreram com os controles no começo, pois ter que apertar para cima para andar, segurar um botão e apertar outro para atirar e ficar girando em torno de si ao colocar para os lados era algo nunca visto e até criticado no começo. Mas a realidade é que o jogo é tão bom que as dificuldades enfrentadas no começo são facilmente esquecidas conforme você adentra cada vez mais na intrigante história e chegam até mesmo a fazer perfeito sentido conforme vai se acostumando com o jogo.
–CURIOSIDADE–
Uma das inspirações de Shinji foi o game de terror Sweet Home da Capcom, de 1989 para NES.
Resident Evil 1 foi um sucesso absoluto, vendeu mais de sete milhões de unidades até o presente momento (considerando todas as suas versões lançadas), deu um novo rumo ao gênero survival horror, foi considerado pela revista TIME como um dos 100 melhores jogos de todos os tempos, e abriu caminho para que suas sequências consolidassem a franquia como a mais importante e mais rentável da Capcom até hoje, bem como uma das franquias mais importantes de toda a indústria dos jogos.
Para comemorar os 22 anos do lançamento do primeiro título, separamos abaixo alguns fatos mais marcantes que marcaram essas duas décadas da franquia. Preparados?
LOCAÇÕES
A história de Resident Evil é tão abrangente e vasta, que ao longo de todos os seus jogos ela literalmente corre o mundo, passando dos EUA para a Espanha, continente africano, Antártida, China… o que não falta no jogo é variedade de lugares para explorar. Os três primeiros jogos acontecem em Raccoon City, seguido por CODE: Veronica em uma ilha criada para o jogo e em seguida pela Antártida. No quarto jogo da franquia, um vilarejo na Espanha é o palco do terror de Resident Evil, seguido pelo continente africano em Resident Evil 5.
Como Resident Evil 6 é jogado por até 7 personagens diferentes, as locações são as mais variadas possíveis, indo dos EUA, passando pelo leste Europeu e chegando na China, com diversos encontros entre os personagens durante a trajetória. Já em Resident Evil 7, nos vemos de volta aos Estados Unidos, na fictícia cidadezinha de Dulvey em Lousiana. Vale lembrar que foi nesse jogo que experimentamos novamente (depois de um longo tempo) a sensação de estarmos acuados em uma residência (propriedade, chácara, ou como preferir chamar).
MUDANÇAS E CURIOSIDADES DA FRANQUIA
Resident Evil passou por várias mudanças ao longo dos 22 anos de existência da franquia, algumas para melhor e outras nem tanto. Durante esse período, vários fatos curiosos aconteceram entre a criação de um jogo e outro. No Japão, terra do criador do jogo – Shinji Mikami – o nome original de Resident Evil é Bio Hazard, por exemplo. O nome foi modificado nos EUA para Resident Evil, devido ao fato de existir uma banda com esse mesmo nome. E não foi só o nome que mudou na versão americana do jogo: a abertura sofreu cortes drásticos, devido ao conteúdo “violento” e “explícito”. Cenas do Joseph sendo destroçado pelos cachorros e uma abertura diferente para a apresentação de Chris foram algumas das censuras criadas para a versão dos EUA. Um detalhe interessante é que a situação deu uma “virada” de 1996 para os dias de hoje, visto que a versão japonesa de Resident Evil 7 é cheia de censuras.
Você pode conferir outras curiosidades a respeito da saga Resident Evil em nosso TOP 10 especial!
Durante a criação de Resident Evil 2, a ideia de jogar com dois personagens diferentes permaneceu, mas quando foi idealizado, era Elza Walker a protagonista. No fim, ela foi retirada do jogo e Claire Redfield – irmã de Chris – assumiu o seu papel. Já um dos jogos preferidos pelos fãs da série, Resident Evil 3 – Nemesis não era para fazer parte da cronologia e sim ser um spin-off de Resident Evil 2. A mudança ocorreu porque a CAPCOM tinha um pré-contrato com a SEGA para lançar o próximo jogo em seu novo vídeo game, o Dreamcast. Porém, a série já fazia sucesso no PlayStation e a CAPCOM não achou justo que o terceiro jogo da franquia não estivesse disponível para seus jogadores. Assim, Resident Evil 3 virou Resident Evil CODE: Veronica e Resident Evil Nemesis ganhou o posto de 3º jogo.
RESIDENT EVIL EM OUTRAS MÍDIAS
Com o estrondoso sucesso dos jogos, é claro que iriam levar Resident Evil para as telonas… mas até hoje não se entende muito bem o porquê. Resident Evil – o jogo – tinha uma história envolvente, uma trama de traição, armas biológicas, arquivos que contavam o horror que os cientistas e outros funcionários da mansão passaram quando o T-Vírus foi solto e personagens extremamente carismáticos que renderiam ótimos filmes.
No entanto, os filmes têm pouco – para não dizer quase nada – a ver com os jogos. Alice (Milla Jovovich) acorda com perda de memória em um lugar que lembra a mansão dos jogos, mas as referências terminam por aí. O que segue depois disso é um filme com muita ação e pouco terror, deixando aquela ponta de desapontamento nos fãs da franquia. Nenhum personagem do jogo aparece no filme Resident Evil – o Hóspede Maldito, introduzindo personagens novos que deixaram quem assiste e conhece os jogos da série com uma pergunta na cabeça: onde estão os personagens?
Em Resident Evil – Apocalipse, tentaram fazer as pazes com os fãs dos jogos e a protagonista Jill Valentine foi introduzida na história. Além disso, Nemesis – o grande inimigo de Jill em Resident Evil 3 (o jogo) também estaria no filme. Hora de se empolgar, certo? Errado! A partir disso, vieram várias continuações, que seguiram totalmente a tendência dos jogos de ir pelo caminho da ação, apoiando-se apenas em inspirações visuais dos jogos, e tomando um caminho totalmente próprio.
Os filmes de Resident Evil são divertidos, mas definitivamente foram feitos para agradar ao público geral, e não os fãs dos jogos. Ainda assim, o foco no público em geral levou a uma grande longevidade da saga em live action, se estendendo por 15 anos e contando com um total de 6 filmes; fato ainda não alcançado por nenhum outro game que tenha sido adaptado. Vale a pena assistir mesmo assim, afinal de contas, é Resident Evil!
ANIMAÇÕES
A CAPCOM não deixou seus fãs na mão e lançou em 2008 Resident Evil– Degeneração. A animação ocorre depois de Resident Evil 4, trazendo os parceiros Leon e Claire para trabalharem juntos novamente. Milhões de polegares para cima em todo mundo dos fãs da franquia fizeram a CAPCOM acreditar que tinha feito a coisa certa e não parou por aí.
Resident Evil: Condenação saiu em 2012 e trouxe Leon de volta, mas dessa vez Ada Wong – seu eterno e não correspondido amor – também dá o ar da sua graça. Mais uma vez, fãs da franquia ficaram muito felizes e a CAPCOM ganhou mais uns pontinhos com eles.
Em 2017 foi lançado então Resident Evil – Vendetta, uma animação que ocorre entre os eventos de Resident Evil 6 e Resident Evil 7. Mesmo tendo sido uma animação empolgante e trazendo Chris Redfield como protagonista ao lado de Leon, além da participação especial de Rebecca Chambers, o longa dividiu opiniões e muitos torceram o nariz, enquanto outra gigante parcela de fãs aprovaram.
QUADRINHOS, MANGÁS, LIVROS E… TEATRO?
Como toda série de games ou filmes de muito sucesso, Resident Evil também possui quadrinhos e livros. A primeira série de HQs, “Resident Evil: The Official Comic Magazine”, iniciou em 1998 e durou pouco menos de um ano. Tinha o propósito de adaptar os primeiros dois jogos, mas logo perdeu a relevância, por ter conflitos com os fatos que aconteceriam nos jogos seguintes. Já a partir das novelizações feitas por S. D. Perry, o segmento alcançou mais popularidade. Os livros, apesar de não serem canônicos, se mantêm mais ligados à trama e contam com um total de sete volumes, lançados entre 1998 e 2004.
No mercado oriental, a série também conta com mangás. O primeiro, “Prelude of the Fall”, liga capítulos do game Umbrella Chronicles. Entre 2012 e 2013 foi lançado no Japão a série de mangás “The Marhawa Desire”, que contou com seis volumes e é considerada canônica, por servir de prólogo para Resident Evil 6. É onde Piers Nivans foi introduzido oficialmente. A terceira série de mangás lançada entre 2015 e 2017, “Heavenly Island”, traz de volta os irmãos Redfield e Parker Luciani, em eventos que ligam Revelations 2 e Umbrella Corps.
Os filmes também apresentam novelizações. A saga em live action conta com cinco livros (apenas “Recomeço” não contou com um) e suas novelizações são oficiais. São interessantes por mostrar o caminho de outros personagens, além de Alice Abernathy (sim, esse é o sobrenome da heroína!). Por fim, o último longa em CG, Vendetta, também possui novelização, em que além de narrar os fatos da animação, também recapitula o que ocorreu antes, desde o assassinado do presidente (em RE6), até a morte da equipe da DSO que Leon fazia parte; que o leva ao estado auto-destrutivo do começo do longa.
Por fim, no ano de 2015 foi lançada no Japão a peça Biohazard: The Stage. A peça mostra um suposto ataque biológico em uma universidade na Austrália, no ano de 2010. A BSAA envia uma equipe, que conta com Chris e Piers, e lá o comandante reencontra a antiga parceira Rebecca Chambers, antiga médica dos STARS, que agora é uma professora.
RESIDENT EVIL 7 – O GRANDE E ATUAL PONTO DE INTERROGAÇÃO DA SAGA
Quando se pensa em Resident Evil, os nomes que vem a cabeça são Jill, Chris, Leon, Barry, Claire, Wesker… até mesmo Sherry e Jake conquistaram “seu lugar ao sol” entre os protagonistas. Mas quem diabos é Ethan Winters? Essa pergunta ocupou a cabeça de muitos fãs de saga e, para ser bem sincero, ainda ocupa. Um homem aparentemente comum que recebe uma mensagem de sua esposa, que estaria morta há alguns anos (Silent Hill 2, oi?) e decide partir para Dulvey, Louisiana para procurar por ela.
Quando a versão Demo do jogo foi lançada, elementos aparentemente sobrenaturais integraram a saga (com direito a aparições de… fantasmas? Resident Evil 3.5?) e não fizeram muito a alegria dos fãs, mas que foram retirados ou, como pode-se dizer, distorcidos para que uma explicação biológica fosse dada para os estranhos eventos de Resident Evil 7. As transformações de Mia, Jack, Marguerithe, entre outros tiveram sua explicação com o projeto executado na cobaia Eveline, mas ainda assim a suposta calma de Ethan ao se deparar com mutações bizarras é algo que não passou despercebido ao olhos dos jogadores e levantou muitas questões, assim como a aparição de “Chris Redfield” no final do jogo, que levantou ainda mais perguntas.
Deixando todas as dúvidas de lado, Resident Evil 7 é um jogo excelente e que trouxe de volta todo aquele horror pessoal que sentíamos falta, ainda que não fosse utilizando a fórmula que fez sucesso nos primeiros 4 jogos da saga. Mesmo o jogo sendo em primeira pessoa (uma jogada de marketing para que pudesse ser jogado com o PS VR, um periférico para PS4), a CAPCOM conseguiu ser bastante competente e apagar a imagem de jogo de ação em ritmo alucinante que tinha se tornado em Resident Evil 6. Os inimigos – ainda que não muito inovadores – conseguem dar uma carga de medo na dose certa, justamente por terem uma inteligência artificial mais acurada, tornando determinados ataque e reações imprevisíveis.
As DLC’s cumpriram bem seu papel de “adicionar” conteúdo ao jogo ao invés de “completar”, algo muito comum nos dias de hoje em vários jogos – incluindo alguns da CAPCOM – logo, se você não comprar as DLC’s opcionais, não estará perdendo conteúdo vital para compreender o jogo. A DLC Not a Hero é gratuita e agrega à história, porém, está longe de responder às inúmeras questões levantadas na campanha.
O FUTURO DA FRANQUIA
Uma continuação direta do Resident Evil 7? Uma história completamente nova, abordando outros tipos de bioterrorismo ao redor do mundo? O retorno triunfal de protagonistas esquecidos da franquia? Não sabemos, não sabemos e não sabemos. A CAPCOM entrou em uma espécie de sigilo total sobre a saga Resident Evil, deixando os fãs ávidos por qualquer tipo de informação que tenha a ver, tanto com o futuro da série como os possíveis remakes que estariam sendo preparados. Até mesmo um possível retorno de Shinji Mikami já foi cogitado em meio à névoa que paira por cima do futuro da franquia, mas nada é concreto nessas especulações.
Assim alcançamos os 22 anos de Resident Evil (ou BioHazard, se preferir): com mais dúvidas do que certezas somadas àquela sensação de não saber o que nos espera no futuro. Logo mais tem E3 e com ela – quem sabe – anúncios que todos estão esperando? Até lá, fica registrado o nosso feliz aniversário para essa franquia incrível e que tantas alegrias trouxe a todos nós. Nos vemos no futuro, comrade!
Paulista, morador de Sorocaba, 36 anos, Redator e Colaborador do EvilHazard, estudante de Letras, tem um crush eterno por Jill Valentine que começou em 1996 e não tem data para acabar, devorador de hambúrgueres e batatas fritas profissional, também conhecido pelo codinome Morphix Lecard
